Antes de começarmos este artigo, uma muito importante consideração a ter nesta discussão é separar sexismo de pura estupidez. Muitas vezes são confundidos, mas são dois erros muito diferentes e, como tal, requerem um tratamento diferente. Alguém sexista acredita genuinamente que, por diversas razões e justificações, que as mulheres mereçam um tratamento diferente. Alguém estúpido simplesmente reage bruscamente à ideia de uma mulher progredir na vida, embora sem grande razão ou objetivo. Lá está, é apenas uma reação brusca inconsequente motivada pelo baixo nível de educação.
E estas duas muito diferentes reações requerem muito diferentes contra-ataques. Poucos são os verdadeiros sexistas e muitos são os estúpidos(as). O mesmo conceito pode ser aplicado ao racismo, onde também existem genuínos racistas ou simples estúpidos.
Posto isto, o presente artigo focar-se-á nas pessoas sexistas por ignorância, pois são as que se encontram na sociedade em maior número. São aquelas que com reformas sociais compreensivas se melhor convencem a serem mais neutras e equilibradas. Quanto aos genuínos sexistas, esse problema já é mais complicado resolver e requer alguma intervenção psicológica profissional, cuidada, para que se evitem ainda mais extremismos.
Mas independentemente da fonte do problema ou de como lidamos com ele, pouco ou nada tem sido feito para o verdadeiramente eliminarmos. Em Portugal, a diferença salarial entre homens e mulheres aumentou desde 2011. É agora uma das mais altas. A Alemanha e o Reino Unido têm diferenças ainda superiores. E os países escandinavos, ditos mais progressivos, pouco melhor estão. O que aconteceu? Ou, melhor, o que não aconteceu?
Forçar o final do problema não previne a sua raiz
Em Portugal, as iniciativas para reduzir este intervalo são nulas. Mas outros países implementaram algumas mudanças. A Noruega, Bélgica, França e Itália têm leis que obrigam empresas na bolsa a terem uma quota mínima de mulheres nos quadros. Multas ou dissolução são as consequências de não cumprimento. Em Espanha, Alemanha ou Holanda, leis similares também existem, mas sem o perigo de punição. No Reino Unido são diretrizes.
Mas, problemas rapidamente surgiram com empresas a arranjarem contornos ás leis. Umas empresas reduziram o número de homens para equilibrar com as mulheres em vez de contratar mais mulheres, outras saíram da bolsa. Contudo, a representação de mulheres nesse escalão melhorou, mais mulheres estão agora presentes nos quadros, apesar das turbulências iniciais. Mas, infelizmente pouco mais melhorou, como era o objetivo destas medidas. A representação feminina nos restantes setores empresariais e escalões não melhorou e continua muito baixa.
E porque haveria alguma coisa ter melhorado? Esta medida era uma de força no último escalão do problema, de remediação a curto prazo de um problema sistémico e endémico, persistente. Se todas as variáveis que levam a este problema não foram alteradas, porque haveria o resultado de ter mudado, com base numa singular medida quotas?
Na Suécia, algumas pré-escolas mudaram o seu funcionamento para tentar criar crianças menos sexualmente estereotípicas. Segundo indicações do governo, devem-se evitar dogmas antigos sobre géneros. Pronomes neutros são usados e as crianças são estimuladas a brincarem com o género oposto, em brincadeiras e tarefas normalmente associadas a um só sexo. Os professores são encorajados a tratar as crianças da mesma maneira, ajudando rapazes e raparigas de igual modo.
Este tipo de ação é o exato oposto de forçar quotas em empresas e, o com mais potencial. Mas, infelizmente, não chega. Apesar de ser obrigatório as pré-escolas usarem métodos que contrariem os tradicionais papeis dos sexos, como as escolas implementam isso, varia bastante. Não só, isto aplica-se apenas às pré-escolas. O uso de pronomes neutros não tem aparentes ganhos, embora o seu uso seja questionado. E muitas das medidas mais fortes, apesar de resultarem em aumentarem a interação entre os géneros, são aplicadas, novamente, apenas até aos 6 anos. Para tirarmos mais robustas conclusões, estas medidas têm que ser mais uniformemente implementadas ao longo de toda a educação das crianças.
Primeiro, estudos devem ser feitos sobre quais as melhores mudanças a serem implementadas e como educar os professores para as melhor implementar. Segundo, estas mudanças devem ser uniformes a toda a população e não sujeitas à interpretação por escola, para evitar divisões na sociedade. E terceiro, estas mudanças têm que ser durante um mais longo período de tempo e não apenas até aos 6 anos. Só assim é que podemos realmente observar os seus resultados e tirar proveito dos mesmos.
Interpretando os estudos e os números
Os homens e as mulheres recebem o mesmo pelo mesmo trabalho. Mas os homens e as mulheres não recebem o mesmo porque não têm os mesmos trabalhos. E é aqui que entra a interpretação destes estudos. Quando olhamos para os estratos dentro da mesma profissão e até da mesma empresa, a diferença salarial entre homens e mulheres é pequeníssima. Mas quando olhamos especificamente para as diferenças nos setores mais ricos, as diferenças começam a surgir.
Como as mulheres não estão tão presentes em cargos altos dentro das empresas, não têm acesso aos salários mais chorudos. E como temos observado pelo aumento desgovernado da desigualdade, esses salários estão a aumentar drasticamente. Isto significa que cada vez mais a diferença monetária total entre homens e mulheres aumenta.
Não quer dizer que esta matemática seja indutora de erro. Simplesmente quer dizer que precisamos mais do que apenas uma global variável para compreender este problema, pois ele é tão vasto como a sociedade em que se enquadra. E apesar das maiores diferenças salariais se encontrarem nos escalões mais altos, para resolvermos este problema, temos que o atacar desde a raiz até à última ramificação. E apenas então poderemos todos beneficiar de tal compreensiva ação.
Considere-se o exemplo do banco HSBC e das suas operações no Reino Unido. Apesar de 54% da sua força laboral serem mulheres, elas recebem 59% menos que os homens. Porquê? Porque os seus empregos são maioritariamente num escalão mais baixo, de entrada. Elas representam 71% dos escalões mais baixos, mas apenas 23% dos escalões mais altos. De igual modo, os bónus que cada escalão recebe são respetivamente diferentes. Começa-se então, a observar as verdadeiras diferenças.

O problema do sexismo está na sociedade
Mas, o sexismo não afeta apenas os salários. As suas consequências ramificam por toda a sociedade. De um ponto de vista legal, pouquíssimos são os impedimentos sexistas. E grandes gestos sexistas são cada vez mais raros. Mas, não obstante, as diferenças entre os géneros persistem. E isto deve-se a todos os múltiplos pequenos detalhes e entraves que existem por todos os escalões de uma sociedade, nos homens e nas mulheres. E muitas vezes, estes detalhes são invisíveis.
Considerem o YouTube e como os seus algoritmos estimulam o constante consumo dos seus vídeos, bons ou maus. Nele, uma das maiores categorias de vídeo é sobre beleza e maquilhagem, vista maioritariamente por mulheres. E como o YouTube quer pessoas no YouTube a verem vídeos do YouTube, os seus algoritmos vão continuar a mostrar mais vídeos sobre maquilhagem, no YouTube (e isto aplica-se a qualquer outra rede social). Isto leva a que se crie um ciclo de constante consumo do mesmo conteúdo, repetido vezes e vezes sem conta. Criam-se assim as câmaras de eco e estimula-se um comportamento monótono.
Isto quer dizer que o sexismo é culpa do YouTube? Não, não comecem já a enervarem-se cegamente na secção dos comentários. Não foi o YouTube que criou a ideia de vídeos sobre beleza. Mas tem a nefasta consequência de estimular câmaras de eco e comportamentos cegos, repetitivos. Uma possível solução para este problema (e, em geral, o problema de câmaras de eco) é o algoritmo passar a sugerir vídeos diferentes que possam estar alinhados com os interesses do visualizador.
A publicidade também não ajuda. Sempre que é para angariar fundos, as mulheres aparecem seminuas. Para vender produtos para a casa, usam-se sempre as mães. Com a chegada do verão, a pressão é aumentada na aparência delas para que sejam o mais bonitas possível. Regularmente são retratadas como perfeitas fisicamente, com formas esculpidas e caras maquilhadas, enquanto que os homens já têm retratos mais abrangentes, com caras muito menos pintadas.
Outro exemplo é a roupa de ginásio para mulheres. Considerem que no dia-a-dia elas já têm que andar sempre bem vestidas, maquilhadas e bem vistas, caso não se queiram sujeitar a comentários escondidos de outras mulheres. No trabalho e em festas também. Ou seja, primeiramente, a ideia que é passada à mulher é que ela tem que ser vista, e só depois ouvida. Acima de tudo, a apresentação é principal. E agora até no ginásio esse pensamento existe. As roupas a elas vendidas são todas super justas e cada vez mais reveladoras. Chegou-se ao ponto de existir um sutiã de desporto push-up. Sim, porque no ginásio, onde deves estar confortável a fazer exercício físico, é imperativo teres as mamas bem à vista, bonitas.
Isso quer dizer que o sexismo é culpa das calças de yoga e da publicidade? Não, não comecem já a enervarem-se cegamente na secção dos comentários. Mas a constante barragem de imagens e mensagens altamente estéticas e superficiais em muito condiciona o comportamento de uma mulher, estimulando que a sua apresentação visual seja extremamente importante. E são as mulheres que mais perpetuam este comportamento. Infelizmente, devido a muito boas táticas de marketing, essas atitudes já se encontram enraizadas nas mulheres, sendo que são elas as primeiras a dizer que se põem bonitas para elas mesmas. Onde o aspeto de uma mulher é confundido com o seu valor.
Outro exemplo de polarização é a diferença entre mulheres e mães. Considerem as atitudes e pensamentos sexistas que muitas vezes as mulheres ouvem e lidam com. E depois considerem como se põe uma mãe num pedestal, mal tenha o primeiro filho. Num momento podem ser incapazes de executarem as funções dos homens e serem demasiado emocionais, mas mal tenham um filho passam a ser as pessoas mais fortes e importantes do mundo. As hormonas de uma mulher! A força de uma mãe! Porquê? Porque de um momento para o outro ocorreu esta tão grande alteração de perceções? Sim, quando nasce uma criança, os seus pais mudam, as suas atitudes e prioridades mudam. Mas não ao ponto de extremismos. Porque não é esperado que o pai igualmente mude? Porque não é esperado que o homem passe a ser um pai que participe de igual modo nas tarefas da casa e na educação das crianças?
Continuando com o exemplo dos pais e da dinâmica familiar. As primeiras experiências sexistas que as crianças sentem são em casa, com os pais. E esses primeiros contactos perduram. As mulheres ainda são as que mais horas trabalham sem serem pagas. Este trabalho não remunerado é o de limpar a casa, de lavar a roupa, de cozinhar e de cuidar das crianças. Funções que historicamente sempre caíram no lado delas. E, problematicamente, as crianças educadas nestes ambientes excessivamente divididos, absorvem e internalizam essas divisões.
Mas mesmo em casais ditos mais progressivos, essas diferenças entre os sexos existem. Aliás, até em casais do mesmo sexo, quando crianças são tidas, ocorrem estas divisões, onde um elemento, “a mulher da relação”, acarreta mais trabalho não remunerado que o outro, “o homem da relação”.
Isso quer dizer que o sexismo é culpa dos meus pais, gays ou não? Não, não comecem já a enervarem-se cegamente na secção dos comentários. Mas quando as crianças têm dinâmicas familiares desequilibradas em detrimento da mãe, elas começam a absorver esses preconceitos. E isso aplica-se aos rapazes e raparigas. Aliás, em certas idades, as crianças são como esponjas. Desta maneira, uma grande parte do sexismo começa em casa, com os pais.
E temos, claro, o exemplo da pornografia. Ela é maioritariamente feita por homens para homens, e essa representação é óbvia no produto final. Ultimamente, a pornografia mais agressiva tem vindo a aumentar de tom, onde a mulher é posta em posições desconfortáveis de submissão. Em certos casos, até são colocadas em posições de submissão de combate. É também cada vez mais usada a literal violência física (chapadas na cara, esganar) para tirar algum excitamento do visualizador. Não só, a maneira como isto é retratado é muitas vezes com o objetivo de considerar a mulher como um objeto a usar, onde ela é atirada pela cama, agarrada, esganada e cuspida. E, apesar de muitas cenas serem encenadas, algumas chegam a roçar na violação. E, da mesma maneira que o YouTube gera uma câmara de eco com os seus algoritmos, a pornografia também tem feito algo similar onde muito do seu conteúdo tem assumido características cada vez mais agressivas.
E, algo que também fica sempre perdido na tradução, é o muito importante facto de muitas vezes, uma fantasia ser apenas isso, uma fantasia. Lá porque uma mulher ou homem tenha uma fantasia, não quer dizer que a queiram concretizar. E a pornografia muitas vezes elimina esta distinção, levando a crer que todas as mulheres têm a fantasia de serem violadas e o desejo de a concretizarem. E isto, claro, sem mencionar as já mais conhecidas falácias da pornografia como por exemplo o aspeto físico dos atores, o tamanho dos órgãos, os gemidos gerados e as posições pouco ortodoxas usadas para capturar o melhor ângulo.
Como ponto final preocupante, cada vez que alguém se masturba a ver este conteúdo agressivo, o seu cérebro vai receber através das hormonas lançadas no sangue, um reforço positivo em acreditar que o que está a ver é bom. Ou seja, estas imagens sexualmente agressivas passam a ser interpretadas como erógenas.
Isso quer dizer que o sexismo é culpa da pornografia? Não, não comecem já a enervarem-se cegamente na secção dos comentários. Algumas pessoas gostam de sexo mais agressivo e intenso. Mas não se pode negar que o conteúdo pornográfico tem vindo a assumir uma cada vez mais agressiva interpretação da mulher e que isso tem potenciais nefastos, tanto para os homens como para as mulheres. Exposição em adolescentes pode ser ainda mais nociva, com ideias erradas sobre sexo formadas logo desde o início. Como tal, uma saudável conversa sobre sexo deve ser tida entre todos nós para evitarmos nos levar por maus preconceitos.
Portugal não é Espanha, Europa ou os EUA
E como final consideração a ter em toda esta conversa, deve-se observar que um estudo realizado em mulheres norte americanas não se necessariamente traduz para as mulheres portuguesas. Devido ás enormes diferenças que existem entre as sociedades do mundo, deve-se ter alguma consideração quando se leem estudos científicos sobre elas e os seus elementos. Devem-se sempre considerar as diferenças entre as sociedades e como isso pode modificar os resultados.
Infelizmente, como os media em Portugal são extremamente raquíticos e pobres, raramente se vêm peças de investigação ou artigos sobre a realidade deste assunto. Normalmente, os artigos são só para relatar os números de estudos internacionais ou de associações relacionadas com o assunto. E muitas vezes não fazem um bom trabalho nisso, relatando mal os dados e não lhes dando o contexto adequado. Como tal, torna-se difícil ter uma conversa inteligente e bem informada sobre este problema, na nossa sociedade.
Para piorar a situação, a ciência da psicologia (e outras) está a atravessar um problema de reprodutibilidade. Isto quer dizer que alguns estudos científicos na área da psicologia estão agora a ser questionados, não porque necessariamente descobrimos algo novo contraditório mas porque não conseguimos reproduzir os resultados iniciais. Esta falha na reprodutibilidade coloca em questão alguns estudos previamente tidos como sólidos e isso influencia como nós observamos uma sociedade. Contudo, muitos discutem a veracidade deste problema e se ele na realidade está na maneira como a ciência é feita e não nos estudos em si. Ou seja, este problema pode estar mais relacionado com a filosofia da ciência, como nós a realizamos e interpretamos, do que com uma falha na própria investigação em si. Deve também ser dito que nem todos os estudos em diferentes áreas da psicologia são realizados da mesma maneira. É uma discussão em curso.
Não quer dizer, no entanto, que a psicologia seja falsa ou errada. Muito pelo contrário. É compreensível haverem problemas na reprodução de estudos antigos e é uma prática científica saudável de os reverificar e reavaliar. Infelizmente, devido a uma capitalização da ciência nos dias de hoje, os governos e universidades favorecem mais a quantidade de artigos novos publicados e não a sua qualidade ou reprodutibilidade.

Como resolvemos este problema?
Em nenhum país medidas genuínas e compreensivas foram implementadas para efetivamente resolver este problema. Até agora perdeu-se mais tempo a apontar dedos do que a propor e trabalhar em direção a positivas mudanças.
E independentemente do que estudos possam dizer sobre as diferenças entre homens e mulheres, não nos devemos focar apenas neles. Não devemos ver homens como sendo diferentes das mulheres, mas sim como diferenças potencialmente geradas pelas convenções da sociedade. Devemos considerar que muitas destas diferenças são criadas por nós e, como tal, podem ser eliminadas por nós. Contudo, ao mesmo tempo, não devemos forçar uma neutralização. Não nos devemos forçar todos a uma igualdade. Existem diferenças genuínas entre nós. E essas diferenças devem ser valorizadas e estimuladas.
E antes de executarmos qualquer grande plano de igualdade, devemos sempre considerar que ele vai demorar gerações até gerar resultados por completo. E, acima de tudo, que o sexismo é uma estrada de dois sentidos. Este artigo focou-se mais sobre as dificuldades sentidas pelas mulheres, mas o sexismo também afeta os homens, embora de maneiras diferentes. É lhes sempre dito que eles devem ser fortes, estoicos, másculos, inabaláveis, e sem emoção. Uma masculinidade tóxica e um estoicismo agressivo. Se algo é feito de maneira diferente, ele é devidamente gozado. E como resultado da nossa intolerante educação do sexo masculino, os homens são os mais suicidas, com enormes problemas de repressão emocional e com uma enorme quantidade de outros estereótipos em cima. Este tipo de problemas são muito calados e invisíveis, muitas vezes desconsiderados. Negar que os homens também precisam de ajuda é algo extremamente perigoso, contra produtivo e estúpido, tendo em conta que os problemas de um sexo influenciam o outro. É extremamente urgente falar sobre ambos os sexos com o devido respeito e atenção que eles merecem.
Posto isto, quando resoluções são propostas, elas devem ser devidamente compreensivas para nos englobar a todos, homens ou mulheres. Devem também ser a longo prazo, estendendo-se bem além dos 4 anos de um mandato político.
Primeiramente está a educação, como é de esperar, sendo ela a fundação de qualquer uma sociedade próspera. A educação deve ser dada de maneira a que diferenças inventadas sejam removidas da sociedade e as genuínas diferenças entre nós sejam fomentadas e estimuladas. Sexismos invisíveis como tratar rapazes e raparigas de maneiras diferentes devem ser eliminados das escolas. Mitos devem ser desacreditados e um pensamento mais crítico construído. Não só, mas atividades onde os géneros se misturem devem ser reforçadas e perpetuadas, para estimular a compreensão do outro lado. Debates e conversas devem ser tidos entre a turma sobre estes assuntos. Se possível, os próprios pais dos alunos podem também participar nestas conversas, aumentando a compreensão dos alunos das pessoas que os rodeiam, fortalecendo relações.
A educação deve, também, ser mais vasta, e passar a englobar temas não facilmente caracterizados numa disciplina. Aulas mais interativas e críticas, de debate, devem ser criadas onde diferentes temas são discutidos. Temas esses que podem estar relacionados com o sexismo ou não. Mas que de uma maneira ou outra, ajudem os alunos a melhor perceberem a sociedade e pessoas em seu redor.
Da mesma maneira que se aposta na educação dos alunos, incontornavelmente deve-se também apostar na instrução dos professores. Para estas alterações serem implementadas, os próprios professores terão que ter uma nova instrução sobre como melhor lidar com a psicologia das suas turmas e dos seus alunos. Eles devem ser ensinados a reconhecer potenciais maus comportamentos e os corrigir. As turmas devem ser mais pequenas e psicólogos e sociólogos devem passar a ter um papel mais ativo na escola.
E todas estas alterações, devem, naturalmente, serem implementadas gradualmente ao longo de vários anos em todos os escalões escolares. Apenas assim poderemos ver resultados válidos.
Saindo da escola, embora mantendo o princípio da educação, os pais também precisam de novos ajustes. Ninguém nasce ensinado para ser pai e mãe, nem quando nasce uma criança, automaticamente o casal passa a saber tudo o que é preciso saber sobre como educar uma criança. Como a educação recebida em casa é muitíssimo importante para a saúde (física, mental e social) de, não só das crianças, mas também dos pais, devem ser criados programas estatais onde novos pais sejam ajudados a perceber as sensibilidades dos seus filhos, onde diferentes comportamentos possam ser mais facilmente compreendidos. Nestes programas, perguntas sobre como lidar com questões inesperadas devem ser estimuladas para que diferentes pais possam aprender uns com os outros e com psicólogos. Idealmente, também se conseguirá evitar que erros passados sejam novamente repetidos, passando problemas de geração em geração. Estes programas podem adquirir várias formas desde programas na televisão, sites na internet ou literais reuniões em salas espalhadas pela cidade.
Mas, mesmo com a melhor da educação atribuída não só às crianças como aos professores e pais, o sexismo pode continuar a existir durante algum tempo. Gerações mais antigas podem apresentar problemas, quando apresentadas com tais bruscas mudanças. Deve-se não forçar a mão destas gerações mas sim as fazer compreender ou esperar que desapareçam.
Similarmente, os media, a publicidade e a pornografia também podem ser severamente alterados, para evitar perpetuar comportamentos ignóbeis. Muitos países já controlam a publicidade, impedindo que esta seja sexista. E Portugal deve seguir esses melhores exemplos. Os media têm que também deixar de criar as mesmas repetitivas e morosas telenovelas sempre centradas em torno dos mesmos clichés e histórias já mais do que repetidas. Novos, mais representativos argumentos do país devem ser aprovados para que as ricas, diferentes histórias que existam entre nós sejam partilhadas com todos. E de igual modo, na pornografia, atos excessivamente violentos e agressivos para as mulheres devem ser eliminados e uma mais saudável representação do que sexo é deve ser mais visível.
Estas mudanças, são, no entanto, difíceis de implementar. Se forem forçadas podem rapidamente ripostar. Deve-se então usar um sistema de incentivos e desencorajamentos. No caso da publicidade, pode-se trocar a mãe nos anúncios de produtos para a casa por um aluno universitário ou uma outra criativa interpretação do produto. Para os media, os canais estatais devem ser os primeiros a criarem boas histórias e a elevarem os níveis de qualidade de produção. E quanto à pornografia, o melhor contra-ataque é mesmo melhorar a educação sexual das pessoas para que melhor se expressem e mais facilmente cumpram os seus desejos na vida real para que não precisem de recorrer à distorcida visão do que sexo é na pornografia.
Quanto á ciência, Portugal deve ignorar a reles tendência mundial de quantidade sobre qualidade e investir mais em estudos compreensivos e bem feitos a longo prazo. Deve-se também, consequentemente, investir na reprodutibilidade desses mesmos estudos, para que tenhamos certezas do que descobrimos. Pequenos estudos a curto prazo de problemas perenes e expansivos não dão bom resultado. E somos todos como sociedade que pagamos.
Reafirmando: boa, robusta, versátil e crítica educação é fundamental
Insultar homens e mulheres não leva a lado nenhum. Apontar dedos só nos satisfaz a cobardia. Deliberada e genuína vontade de mudar é necessária. E a principal, mais eficaz mudança é a da educação, incontornavelmente.
Nenhuma mudança que valha a pena vai gerar resultados visíveis tão cedo. É imperativo lutar contra ignorâncias que tentem descarrilar este progresso com argumentos de resultados rápidos. Não devemos olhar apenas para homens e mulheres como consequências do passado, mas sim também como pilares para o futuro. Se vamos passar o nosso tempo todo a apontar dedos, nada mudará.
Sim, alguns estudos vão apontar diferenças que podem parecer biológicas, mas teremos sempre que ter a consideração que centenas de anos de influências societais podem ter levado a essas diferenças já quase estabelecidas, e não necessariamente a biologia de cada um. De qualquer das maneiras, nós não somos animais não racionais. Já saímos da cadeia alimentar. A nossa evolução é uma artificial, por nós alterada. E postas estas distinções, devemos considerar o que queremos ser amanhã. Devemos lutar pelas melhorias que vamos querer ver, em concordância com as nossas genuínas diferenças e não em convenções inventadas em tempos passados.
Aliás, exemplos não nos faltam de mulheres que definiram áreas agora controladas por homens. Devemos sempre fazer uma pausa quando falamos dessas áreas pois muito facilmente elas podem ter sido inicialmente definidas por mulheres e depois, devido a convenções, removidas delas.
E para todos aqueles que resmungam, mal se fale em igualdade, para todos os ofendidos pela mudança, para todos aqueles descontentes, lembrem-se que os benefícios financeiros de meio planeta estar em pé de igualdade com a outra metade são enormes e permeantes a todas as secções e cantos da sociedade. Incluindo os serviços de apoio social, que estão neste momento a precisar de novas fontes de rendimento (e sérias reestruturações) para funcionarem corretamente.
Atualização: parágrafo sobre o problema de reprodutibilidade na ciência reescrito para melhor retratar a incerteza em torno dele.
Atualização #2: adicionado novo parágrafo à introdução para indicar que este artigo fala mais sobre o sexismo por ignorância, e como o interpretar e resolver.
Atualização #3: título e subtítulo modificados para melhor refletir o texto do artigo.