A internet é das melhores invenções que temos. É também das piores intrusões e excessos que temos. Ela prometeu nos ligar a todos, mas está agora em sítios que não prevemos. O plano inicial era mais equilibrado e utilitário mas, agora, a paisagem da internet é uma de abuso e excesso monopolista. Em vez de propagar as nossas melhores intenções, explorou as piores.
Quando a internet surgiu no CERN, ela foi usada para melhorar a comunicação entre cientistas. Hoje, ela fecha a ciência paga com dinheiro público atrás de muros privados. A partilha de código e de conhecimento prometia uma maior variedade de programas e recursos mas, através do abuso de patentes, apenas algumas empresas ficaram com os lucros. As redes sociais que nos iam ajudar a manter melhores relações acabaram por ser usadas para maximizar a nossa superficialidade e egoísmo. Padrões escuros tornam toda a internet mais enganadora ao esconder opções e influenciar utilizadores negativamente, sem que nos apercebamos. Se compras algo ligado à internet e a empresa decide cancelar o suporte do produto, ele deixa de funcionar e não tens alternativa. Primeiro veio o lixo no correio eletrónico e depois as notícias falsas. Primeiro os vírus para deitar abaixo o computador e depois as infeções para roubar informações. Primeiro a promessa, depois a realidade.
Sim, muitos destes problemas são mais nossos do que da internet em si. Mas isso apenas reflete a sua verdadeira natureza: a internet somos nós. É um veículo que nós conduzimos.
Mas, por mais feia que pareça a situação atual, ela não tem que continuar assim. A internet não tem que inevitavelmente piorar daqui para a frente. Uma das suas mais incríveis capacidades é a sua maleabilidade e adaptação. Uma besta de um servidor que suporta o Facebook liga-se à mesma internet que um telemóvel de 50€ ou uma máquina de lavar loiça. No seu mais básico aspeto, a internet são ligações imensamente simples e, como tal, imensamente adaptáveis.
Essa maleabilidade pode ser utilizada não para criar uma libertinagem que favorece apenas grandes empresas e governos autoritários mas sim para criar a perfeita distribuição originalmente prometida. Como a internet somos nós e como nós precisamos de regras para evitar que a nossa liberdade decaia em libertinagem, a internet também precisa do mesmo. Como ela existe hoje, não tem regra nenhuma, nada que a controle, nenhuma regulação ou contrapeso.
A seguinte proposta apresentada neste artigo não vai resolver todos os problemas que enfrentamos, mas é um primeiro passo para restruturar toda a internet em torno dos utilizadores e não de grandes empresas e de atores nefastos: um servidor em cada casa, pertencente inteiramente a quem o comprou (assim como algumas mudanças na legislação).
Primeiro, o servidor
Uma das principais razões por sermos tão explorados na internet é que nós não somos donos de nada. Hoje, na internet, nós somos o produto. Basta procurar ou os anúncios ou os aspiradores de informação na página para determinar que o que é vendido és tu. E mesmo quando pagas por algo, é provável que seja um serviço que alugues e não controles. Por estas razões, por nós não termos poder de decisão nenhum, as empresas fazem o que querem e nós, na ignorância deliberada ou não, deixamo-nos levar. Perdemos o controlo de toda a internet para alguns grupos tecnológicos e ditaduras.
Mas como a internet são essencialmente computadores ligados uns aos outros, se cada um de nós controlar uma pequena parte dessas ligações, no nosso todo, como sociedade, iremos ter uma enorme quantidade de poder. E é aqui que entra o pequeno servidor em cada casa: ele é nosso e controlado apenas por nós. É uma pequena parte da internet que nos pertence e as vantagens e repercussões são imensas.
Este nosso servidor não seria como as bestas pluripotentes usadas pela Amazon ou pela Google. Seria algo muito mais simples e pequeno. Um antigo computador perdido em casa poderia ser reconvertido num servidor com a instalação de um sistema operativo (SO) novo. Com a incrível capacidade que até computadores medianos têm, computadores com alguns anos são mais do que capazes de lidar com os simples cálculos de uma casa ligada à internet (isto é importante porque assim dá-se uso aos PCs antigos que temos, evitando comprar novo e gerar lixo eletrónico com o velho).
O servidor estaria em nossa casa e seria inteiramente nosso. O seu sistema operativo não seria alugado e não estaria sujeito a mudanças repentinas por empresas estrangeiras. Este simples princípio dita que nós deixamos de ser o produto e passamos de volta a consumidores. Voltamos a estar em controlo daquilo que é nosso.
Por ser nosso, podemos fazer dele o que quisermos e instalar o que quisermos adicionando os extras que quisermos. Considerem a eletrónica que a casa já tem hoje: router, caixa de televisão, eletrodomésticos inteligentes, computadores ou memórias partilhadas. Com a maleabilidade da tecnologia de hoje, podemos converter todos estes extras numa só caixa que se liga ao mundo exterior (ou não, podemos escolher deixar a nossa casa desligada da rede inteiramente).
Todas as diferentes caixas que temos enterradas e amontoadas atrás da televisão poderiam ser convertidas numa só. O router pode ser diretamente integrado no servidor para se ligar à rede externa. O servidor pode também se ligar às TVs e descodificar o sinal, negando a necessidade de uma caixa adicional. Como estes equipamentos passam a estar exclusivamente debaixo do nosso controlo, podemos mudar de operadora mais facilmente sem serem precisas novas instalações (alterações à lei serão necessárias mas mais sobre isso à frente).
Todos os aparelhos que a casa tem que se ligam á internet deixam de se ligar diretamente à rede externa e passam a ligar-se ao servidor doméstico primeiro. Recorrendo a mudanças à lei (novamente, mais sobre isso mais à frente), eletrodomésticos que tenham funções online extras podem as hospedar neste servidor e deixarem de se ligar a servidores no outro canto do mundo. Cada objeto ou eletrodoméstico teria dentro de si o pequeno código que iria instalar-se automaticamente no servidor, mal se ligue a ele. Isto é importante pois com a ligação de tudo e mais alguma coisa que temos em casa à internet, estamos dependentes de servidores externos e muitas vezes estrangeiros. Mas se passarmos a ligar tudo a um servidor caseiro, que hospeda todas as necessidades destes aparelhos, deixamos de estar dependentes de externalidades. Mesmo que a empresa vá à falência, os nossos servidores continuam e evitamos perder funcionalidades.
Como nota final, mantendo sempre os princípios de bom design em mente, este servidor plurivalente com routers e outros equipamentos integrados pode-o ser de uma maneira modular para que seja facilmente reparado e atualizado. Assim como num computador se pode facilmente mudar a memória ou a placa gráfica, neste servidor o mesmo aconteceria para estas peças modulares. Afinal de contas, este servidor seria um computador normal, existindo hoje muito bons computadores a preços muito acessíveis, muito bem desenhados e otimizados.
Essencialmente, de um ponto de vista físico, o servidor aqui proposto a colocar nas nossas casas é pequeno e simples, mas construído com uma maleabilidade enorme, capaz de se adaptar às necessidades de cada um.
Segundo, tudo aquilo que podemos melhorar e temos que mudar
Esta simples mudança, de colocarmos um servidor em nossa casa ou de simplesmente recondicionarmos um computador antigo pode ter repercussões imensas. Mas para que todos esses benefícios se materializem, várias mudanças às leis são necessárias.
Como é nosso, nós mandamos nos nossos dados
A partir do momento em que o servidor é nosso e aquilo que lá é hospedado é controlado por nós, deixamos de estar dependentes de contratos e serviços manipuladores. Consideremos o exemplo de hospedar os eletrodomésticos “inteligentes” das nossas casas no nosso servidor. Atualmente, a tendência que existe é a dos jardins fechados onde algumas empresas monopolistas criam os seus padrões fechados e tentam controlar o máximo do mercado. Produtos são lançados que suportam ou o ecossistema da Apple ou o da Google. Nestes casos, nós não temos controlo sobre nada e é quem gere o serviço e quem faz o produto que manda. Ou seja, se a Apple decide mudar os seus acessos, o teu candeeiro “inteligente” deixa de funcionar direito. Se a LG decide forçar uma atualização à tua máquina de lavar loiça, podes perder funções.
Ao forçar, através de novas legislações, que todos os produtos vendidos ditos “inteligentes” ligados à internet tenham sempre a opção de serem hospedados e controlados localmente por um servidor doméstico, podemos essencialmente eliminar este problema. Com esta alternativa, tu é que instalas o teu frigorífico “inteligente” no teu servidor e tu é que controlas quando ele é atualizado. Mesmo que a empresa que fez o produto vá à falência e os seus servidores fechem, o teu doméstico continua a funcionar e todas as funcionalidades de todos os produtos online continuam.
Outro positivo bónus desta hospedagem local e privada é que nenhuma empresa estrangeira vai aspirar os teus dados pessoais para analisar o que fazes na privacidade da tua casa e te vender anúncios com base nisso. Se tem ecrã e está ligado à internet, podem ter a certeza que alguém vai tentar aspirar dados e vender anúncios. Como os teus dados deixam de ser transmitidos para fora do país, para empresas com morais questionáveis, já não és quantificado para seres vendido. Podemos até ir um passo mais à frente e encriptar tudo no nosso servidor. Isto quer dizer que o teu frigorífico “inteligente” não te vai mostrar anúncios para ires comprar mais leite da marca X à loja Y porque a sua câmara interna detetou que ele acabou.
Mudanças nas casas, mais sustentabilidade
Continuemos com o exemplo dos eletrodomésticos “inteligentes”. Tendo em conta que numa casa a eletricidade, a água e o gás não são acedidos apenas num ponto (existem tomadas e torneiras por toda a casa), a internet deve seguir o mesmo princípio. As casas devem ser desenhadas com a internet e este servidor doméstico em mente.
As mudanças são simples: cabos de rede passam a ser embutidos nas paredes para que se possa repetir o sinal original saído do servidor via cabo sem termos que usar repetidores sem fios. Desta maneira, as casas passam a ser desenhadas com um ponto de entrada para a internet e uma rede de distribuição do sinal via cabo. Suponhamos que, para todos os dispositivos ligados à internet que temos em casa estejam ligados à rede, têm que todos ter fácil acesso à mesma. Se uma casa está dependente de um único router, com uma única emissão sem fios, das duas uma: ou forçamos ao máximo aquele um sinal para ele cobrir uma maior área (corre o risco de interferir com outros sinais) ou então usamos repetidores sem fios para fazermos chegar esse sinal mais longe (repetidores esses que funcionam sempre fracamente e também estão muito sujeitos a interferências).
Posto isto, o uso de cabos por toda a casa elimina todos os nossos problemas e certifica que cada divisão tem o seu acesso à rede sem sobrepor ou sobrecarregar outros sinais. Considerem como solução haver alguns acessos via cabo ao lado das tomadas elétricas mas também colocar cabos de rede ao lado das lâmpadas no teto. Se quiseres ligar via cabo, cada divisão poderá ter o seu, sim, mas para todos os outros dispositivos que se ligam apenas sem fios, este cabo de rede ao lado das lâmpadas pode ser usado para ligar um emissor sem fios. Desta maneira, ao colocar o emissor sem fios ligado diretamente via cabo à origem, elimina-se a repetição de interferências que reduz a eficácia dos repetidores sem fios e ao o colocar ao lado da lâmpada, assegura-se a melhor distribuição do sinal possível por toda a divisão. Assim cada grande divisão pode ter o seu pequeno sinal sem fios que a serve apenas a si sem ter que sobrecarregar esse sinal e o forçar a chegar mais longe do que consegue. Desta maneira, os sinais sem fios não se sobrepõem uns aos outros e a distribuição é muito mais sana por toda a casa (isto é particularmente benéfico para edifícios de apartamentos com grande densidade de sinais sem fios, eliminado a sobreposição desses sinais).
Mudanças nas operadoras, mais liberdade
Para finalizar a consolidação do poder de decisão sobre o consumidor, são necessárias alterações a como as operadoras de comunicações oferecem os seus serviços. Já mencionamos o que tem que mudar para a internet ser melhor distribuída pela casa, mas também são necessárias alterações a como essa internet chega às nossas casas.
Quando pagamos pelo serviço de internet e televisão, o router e a caixa de televisão são alugadas à empresa enquanto o contrato dura. Ou seja, não são nossos e acabam por ser devolvidos. Anteriormente neste artigo foi mencionado que estas duas caixas podem passar a ser integradas no servidor, modularmente, para termos uma solução simples e integrada. Mas para isso acontecer, implica que elas passem a estar do nosso lado, no nosso controlo.
Para que esta integração seja possível, leis vão ter que ser criadas que forcem as empresas fornecedoras de serviços de informação em Portugal a oferecerem duas opções: ou alugas o nosso equipamento ou nós instalamos uns certificados de autenticação no teu para poderes aceder aos nossos serviços.
Desta maneira, imensos benefícios são gerados. Primeiro, podes comprar equipamentos mais adequados às tuas necessidades. Não queres internet sem fios (por questões de privacidade, ou outras)? Compras um router que funciona apenas via cabo. Se quiseres um router com a mais recente iteração do protocolo wi-fi, podes mais facilmente o mudar. Se vives num T1, não vais precisar de um router tão potente como quem viva numa vivenda (com mais pessoas e equipamentos ligados). A adaptabilidade é imensa.
A descodificação de televisão passa a ser feita através da computação nativa do servidor, negando a necessidade de mais componentes. Podes escolher instalar no teu servidor uma interface mais simples, mais rápida, com menos funções ou então outra mais avançada. Tendo esse servidor uma memória interna associada, ela pode ser expandida ou reduzida conforme as nossas necessidades de gravação de televisão. Novamente, dependendo das tuas necessidades, podes escolher o que seja melhor para ti.
Outra vantagem associada a estas mudanças de lei é o aumento de competição entre operadoras. A partir do momento em que criamos casas já melhor preparadas para receber a internet, associado ao facto de sermos nós que controlamos os equipamentos dentro delas, negamos a necessidade de novas instalações sempre que mudamos de operadora. Tendo em conta que as nossas casas já têm tudo o que precisam dentro delas, mudar de operadora passa a ser uma mera instalação de novos certificados de segurança nos nossos equipamentos (assim como tratar da restante papelada requerida).
Existe, no entanto, um pequeno (enorme) senão: para esta mudança de operadoras ser fácil é necessário que, à porta de tua casa, tenhas mais do que duas escolhas fracas.
Mudanças na rede nacional de internet, mais e melhor internet para o país
Para este servidor caseiro funcionar plenamente em todo o país (ilhas incluídas, obviamente), é necessário que todo o país tenha acesso a boa internet (e boa competição).
Ou seja, tendo em conta as dificuldades e altos preços de fazer a instalação de uma rede nacional de internet, associado ao facto de a internet ser extremamente importante nos dias de hoje, não só para as nossas rotinas como também para segurança nacional, seria ideal que o governo forçasse a rede de fibra ótica a ser pública e partilhada.
Ou seja, os cabos que levam a internet às nossas casas, que são iguais (ou muito parecidos) para todas as operadoras, passam a pertencer a uma empresa pública que os licenceia. As vantagens disto são imensas.
Primeiro, como os cabos são essencialmente iguais em todo o lado, mudando apenas os equipamentos que distribuem os dados por eles, é redundante estar a colocar vários cabos iguais, um ao lado do outro, quando nenhum é usado ao máximo. Ao passar a ser uma empresa pública a controlar os cabos, deixa-se de ter que fazer obras no mesmo sítio cada vez que uma operadora nova entra num mercado diferente. Desta maneira, os cabos são instalados uma vez e usados por várias operadoras. Reduz-se o custo em obras e em atrasos causados à cidade.
Segundo, outra enorme vantagem seria a de, como os custos por metro de cabo passam a ser partilhados e, consequentemente reduzidos, é muito mais fácil fazer chegar boa e rápida internet a mais pontos do país (ilhas incluídas, obviamente). As cidades deixam de ter o monopólio de internet rápida e todo o restante país passa a ter igual acesso à internet.
Uma terceira vantagem é a da competição: como as operadoras deixam de ter que gastar dinheiro em cabos, e como por mais nova que seja a empresa, ela passa a ter acesso a todo o país com esta rede partilhada, a competição aumenta drasticamente. Passa a ser muito mais fácil novas operadoras expandirem pelo país todo pois uma grande parte da infraestrutura já está construída.
Estas 3 grandes vantagens fazem com que nós consumidores ganhemos todo um novo universo de acessos à internet, muito mais democratizado e competitivo.
Mudanças nos padrões universais, mais competição
Para finalizar tudo aquilo que já aqui foi escrito, é necessário mencionar uma última mudança a como um país funciona: padrões universais têm que ser mais respeitados e usados.
As linguagens que nós usamos e que nos unem seguem regras que nos unificam. A internet proliferou porque todos os computadores falaram uns com os outros na mesma linguagem. A maior parte dos ficheiros podem ser facilmente partilhados porque usam o mesmo formato. No entanto, cada vez mais vemos empresas a tentarem criar o seu padrão em detrimento de trabalhar em conjunto com outras para desenvolver algo mais robusto, em comum.
Excessivamente têm empresas tecnológicas gigantes tentado modificar e corromper tecnologias em torno dos seus jardins fechados. A Apple é o principal exemplo, mas até o seu oposto, a Google, o faz. Estas empresas preferem sempre usar padrões proprietários e influenciar o máximo de marcas a usarem apenas os seus serviços. Governos, na sua letargia e conformismo, deixam as empresas fazerem o que querem, fraturando bases e ligações fundamentais.
Independentemente de como a Microsoft vê o Windows, a Google o Android ou a Apple o iOS, eu vejo a minha casa como sendo minha. Quando entro nela, considero o que lá esteja como meu, não de empresas multinacionais gigantes. Hoje, cada objeto dito “inteligente” está a ser vendido com a sua específica aplicação e ecossistema. Cada marca cria o seu formato para ligar diferentes eletrodomésticos. Cada ecossistema é desenhado para ser fechado em torno de si mesmo. E isso não pode continuar. Seria muito estúpido se cada eletrodoméstico precisasse da sua tomada diferente, não seria? Como cada marca faz as coisas à sua maneira, uma casa com vários produtos de várias marcas diferentes vê-se forçada a usar um serviço e uma interface diferente para cada um. A fracturação é excessiva e desmesurada, sem fim à vista. Se o mercado privado não se entende e define padrões universais, então os governos vão ser forçados a intervir e a definir quais os padrões a serem suportados por todos. Se não o fizerem, as nossas casas passam a estar mais dependentes e controladas por empresas estrangeiras do que por nós.
Para que todos os eletrodomésticos numa casa funcionem corretamente, o controlo tem que permanecer do lado do utilizador e tudo tem que operar dentro de padrões universais. Independentemente do código que corra dentro do frigorífico, ele tem que falar da mesma maneira com o servidor como a televisão. Independentemente de como a Apple ou a Google veja uma casa “inteligente”, tudo que está dentro dela deve falar na mesma língua e ser controlado apenas pelo utilizador.
Ou seja, o telemóvel pode ser da Apple, o servidor pode ter código da Google e a televisão ser feita pela Sony, mas todos têm que falar a mesma língua, imperativamente, com o servidor. Sim, a maneira como o sistema operativo instalado no servidor opera pode ser diferente de uma empresa para a outra. A maneira como ele descodifica o sinal de TV pode ser melhor ou pior, mas no final de contas, quando esse sinal é transmitido para a televisão, ele tem que sempre seguir as mesmas interfaces de acesso.
O frigorífico pode ser da LG e a câmara de vigilância da Amazon, mas quando são mandadas notificações ao meu telemóvel, os mesmos códigos têm que ser usados. A Google pode usar código aberto e a Apple fechar o seu em torno de máxima segurança, mas no final do dia, quando eu quiser ver a câmara de vigilância da sala ou a câmara de dentro do frigorífico, os mesmos comandos vão ser invocados nos diferentes sistemas operativos e eletrodomésticos porque aquilo que está a ser pedido é o mesmo: um vídeo.
Para isto acontecer, é preciso que uma organização (preferencialmente europeia) defina quais os padrões a usar. Esta organização deve acima de tudo ter em conta a universalidade e maleabilidade dos padrões para que eles se possam adaptar a qualquer produto lançado, por mais distinto que ele seja.
Terceiro, todas as outras alternativas e vantagens que podem surgir
Mas, apesar de tudo o que foi escrito até aqui, as possíveis vantagens deste servidor repercutem muito para além da nossa casa. Existe a possibilidade modificar toda a internet mundial a partir de um simples servidor caseiro.
Extremismos não são sustentáveis, as alternativas aos monopólios
Nenhum sistema natural se sustenta com base em extremismos. Tudo que é saudável e sustentável tem que ter um equilíbrio. E empresas gigantes multinacionais com enormes quintas de servidores a controlar uma grande parte da internet mundial não é sustentável. A internet não pertence aos gigantes. A internet são as ligações que nos unem. E ao dispensarmos o controlo sobre as ligações que nos unem, deixamos de controlar como nos ligamos e passamos a ser manipulados por externos.
Estes servidores domésticos iriam dar o primeiro passo na descentralização da internet em torno dos utilizadores. Eles seriam nossos, controlados por nós, que, apesar de serem todos diferentes e usados em diferentes situações, iriam todos usar a mesma linguagem para comunicar. Por causa destas duas condições, todos os indivíduos privados unidos em torno de um objetivo iriam representar uma enorme afronta aos gigantes centralizados.
Não só, mas também desimpedimos a internet de tráfego desnecessário. Como tudo que está na nossa casa passa a comunicar mais diretamente connosco, deixamos de enviar pedidos a servidores estrangeiros. A internet passa a ser mais local e direta, sem entupir canos com pedidos cujo cabeçalho é maior que o conteúdo. Também, como os dados que nós emitimos não são processados para nos venderem anúncios, reduz-se imensamente a carga computacional que o mundo usa, e consequentemente a energia gasta (e a poluição emitida).
E apesar destes servidores serem desenhados para serem pequenos e eficientes, nada os impede de adquirirem novas funções “extra caseiras”. Sim, a sua base deve ser o mais eficiente possível para lidar com as várias funções de uma casa “inteligente”, mas muito mais pode ser construído em cima desta base. Soluções P2P (peer to peer, par a par) passam a fazer muitíssimo mais sentido num mundo onde cada casa tem um pequeno servidor sempre ligado. Novamente, por mais pequeno e fraco que o servidor seja, a pequena capacidade de computação extra que ele tenha, quando em conjunto com milhões de outros pequenos de servidores pode ser usada pela tecnologia P2P para oferecer novas soluções para problemas atuais. Não se esqueçam que o Skype, antes de ser comprado pela Microsoft, funcionava com base em P2P.
Sempre que haja poder de computação livre, ele pode ser oferecido a experiências científicas, para que não estejamos sempre dependentes de supercomputadores exclusivos e caros. Redes sociais feitas com código aberto podem ser instaladas nestes servidores para que nós possamos partilhar conteúdos sem sermos explorados até à mais pequena molécula por empresas como o Facebook ou o Twitter. Estas redes sociais, por nós controladas não nos iriam sugar todos os dados nem nos oferecer conteúdos influenciados por algoritmos que distorcem a realidade. Elas seriam muito mais leves e, como tal, mais fáceis de instalar e distribuir por estes muitos pequenos servidores. Estes redes sociais grátis feitas com código aberto poderiam depois ser vendidas a empresas privadas para funcionarem como a central de discussões e controlo online de cada empresa (integrando email, mensagens e partilha de conteúdos, por exemplo).
As possibilidades são imensas.
A influência de controlo sobre o que é nosso alastra a outros aspetos
Outro muito bom exemplo da mudança que este servidor pode significar é a influência que o ideal de mais controlo pode significar para a sociedade. Existem vários exemplos de serviços digitais que nos permitem “comprar” algo mas que, na realidade, essa propriedade digital não é nossa por completo. Considerem o exemplo da Xbox Live: podem-se comprar jogos online, pagando uma quantia de dinheiro e ficando com acesso ao jogo quando quisermos. Só que a realidade não é assim tão simples. Nós apenas podemos jogar o jogo enquanto o temos na memória da Xbox e o manuseamos pela Xbox. Ou seja, não posso fazer uma cópia de segurança daquele um jogo no meu computador ou em discos Blu-Ray. E mesmo quando a Microsoft permite usar memórias externas, é criado um espaço fechado dentro dessa memória, acessível apenas via a Xbox, onde as posses são guardadas.
Se a Microsoft vai à falência ou deixa de publicar aquele um jogo pelo qual tu pagaste mas entretanto o apagaste do teu disco, dificilmente o voltas a ter. A menos que pagues por uma cópia física do jogo, a cópia digital que muitos serviços dão é mais um aluguer sem fim do que uma compra. Ou seja, compramos algo, mas apenas podemos usar isso nas condições impostas pela Microsoft (ou outras empresas similares). Idealmente, aquilo que é por nós comprado com o nosso dinheiro também deve ser por nós livremente manipulado. Mas a realidade é outra.
Mas como estes servidores domésticos neste artigo propostos assentam muito sobre o controlo do utilizador daquilo que é seu, enormes influências podem ser criadas sobre os restantes aspetos da nossa vida digital. Ou seja, é expectável que, não pela existência física do servidor mas sim pelo ideal que ele representa, que estas práticas anti consumidor sejam lentamente desencorajadas e banidas. Resumidamente, se eu comprei algo, então quero gravar e manipular isso como eu quiser.
As repercussões desta mudança de perspetiva podem ser imensas. Para o explicar, vamos usar o exemplo de carros e patentes. Quando um carro com nova tecnologia é lançado, a competição pode-o comprar, levar para as suas oficinas e o desmontar todo, para ver o que foi mudado, e como. Quando uma patente é aprovada, essa patente contém toda a informação sobre como ela funciona, expondo tudo em público. Isto é assim para prevenir que a competição infrinja no mais pequeno detalhe dessa patente, protegendo a propriedade intelectual ao máximo. Mas, ao mesmo tempo, esta exposição total permite a que a competição possa aprender como este problema foi resolvido e possa arranjar outras soluções diferentes. Ou seja, proteção máxima com exposição total.
No mundo físico, como por exemplo com os carros, esta proteção e partilha de informação é mais fácil. É difícil esconder algo que eu consigo ver perfeitamente. As patentes têm o mesmo efeito. Mas no mundo digital, a ofuscação reina e tudo é escondido atrás de fumos e espelhos. Os jardins fechados são hoje a norma e as patentes são mais usadas para abusos de poder do que para proteção de conhecimento. Este fechar egoísta, onde não só todo o código é escondido mas também impedido de ser partilhado e compreendido pelos utilizadores impede que haja uma saudável transferência de conhecimento e um sustentável nutrir de competição.
Retomando o exemplo das posses digitais “compradas”: ao influenciarmos a mentalidade das pessoas em torno do respeito básico pelo controlo daquilo que tu compraste, podemos mais facilmente evitar que empresas gigantes se aproveitem da nossa ignorância e letargia. Novamente: não, o servidor por si só não vai mudar nada, mas existe a possibilidade de ele incutir em nós uma nova apreciação pelo funcionamento básico que tanto desrespeitamos, de controlarmos o que é nosso. Durante muito tempo deixamo-nos levar pela falsa conveniência e conforto que estas empresas nos venderam. Temos agora que mudar os nossos comportamentos para corrigir aquilo que permitimos acontecer.
Temos que exigir que aquilo que compramos seja genuinamente nosso e não apenas um aluguer por outras palavras.
Redução de lixo eletrónico e a criação de melhores, mais duradouros equipamentos
Uma outra vantagem deste servidor modular é que ele pode ser adaptado a cada casa, para cada uso. Ao modularmos tudo (como numa torre de computador), fazemos com que não seja preciso mudar todo o sistema cada vez que haja um pequeno problema, evitando criar lixo eletrónico. Ao reutilizar a eletrónica velha que temos em casa com novos sistemas operativos mais leves, podemos evitar comprar novo e dar uso ao velho portátil que temos em casa a ganhar pó. Tens muitas câmaras de vigilância? Podes comprar mais memória para guardar os dados e um processador mais potente para processar todos os fluxos de vídeo em simultâneo. Moras num T1? Então é provável que o sinal wi-fi de um único router consiga cobrir toda a tua casa e não precises de algo mais.
Considerem também como os routers e as caixas descodificadoras de televisão em nossa casa funcionam muitas vezes mal, lentamente e emitem imenso calor consumindo demasiada energia. Estes produtos, que quase todos temos, funcionam muitas vezes com uma eficiência questionável e nós não os podemos alterar ou modificar. Não são nossos. Com um servidor modular nosso, podemos mudar isso. Ao escolhermos os módulos que queremos adicionar, podemos selecionar aqueles mais eficientes e mais rápidos, com mais ou menos memória, que consumam menos energia e não sobreaqueçam. Reduz-se a conta da eletricidade e temos uma melhor oferta. O poder da competição do mercado livre pode ser muito benéfico.
Associando esta modularidade e adaptabilidade aos padrões universais, podemos reduzir imensamente o lixo eletrónico por nós criado. Ao usarmos apenas padrões universais, incompatibilidades entre marcas desaparecem. Tudo funciona com tudo. O teu iPhone com a aplicação para casas inteligentes da Apple vai interagir com o teu servidor com Windows que controla a tua máquina de lavar roupa que corre uma muitíssimo leve versão de Linux. Jardins fechados morrem e a compatibilidade reina. Ou seja, não és forçado a comprar tudo da mesma marca ou do mesmo sistema. A casa é tua, tu mandas nela e não nenhuma empresa estrangeira.
Mesmo que algo envelheça, os padrões que o ligam à rede hoje ou daqui a 10 anos serão os mesmos. Isto é obviamente necessário pois uma máquina de lavar loiça dura décadas numa casa, o que quer dizer que estes padrões e esta compatibilidade têm mesmo que durar muitíssimo tempo. Mesmo que a Apple decida sair do mercado ou a Google mude as suas ofertas, os padrões universais prevalecem e tu manténs o controlo do que é teu.
Aliás, tendo em conta a quantidade de lixo eletrónico que já existe pelo mundo fora (e como ainda não arranjamos nenhuma maneira eficaz de o corretamente reciclar), estados podem criar competições para que empresas arranjem soluções para converter todos estes antigos computadores em novos servidores. Placas podem ser removidas das caixas de portáteis antigos, ventoinhas novas mais potentes podem ser introduzidas e, com o um novo sistema operativo, podemos evitar destruir computadores antigos ainda imensamente úteis e dar-lhes uma nova vida. As poupanças ambientais podem ser imensas.
Apenas desta maneira podemos assegurar que aquilo que compramos dura o máximo de tempo possível e, mesmo que avarie, possa ser facilmente reparado. Naturalmente, leis que protejam o direito á reparação do que é nosso devem ser implementadas. Hoje existem imensas empresas que preferem que compres novo em vez de reparar e criam produtos difíceis de abrir e modificar. Isto deve ser, naturalmente, ilegalizado. E, como podemos reparar o hardware, também devemos poder reparar o software. Da mesma maneira que podes modificar o teu carro para ser mais rápido ou poluir menos com peças novas, também deves poder modificar o código do teu computador para que ele seja mais rápido ou mais robusto no processamento gráfico com a instalação de novos módulos de software.
A quantidade a curto prazo morre e a qualidade a longo prazo retorna. Deixamos de comprar porcarias caras a toda a hora que rapidamente são artificialmente desatualizadas com software hostil e passamos a comprar apenas aquilo que é adequado às nossas necessidades.
Redes elétricas do futuro, internet em emergências e muito mais
Considerem como, no futuro, casas com painéis solares vão representar uma muito maior fatia da produção de energia do país. Considerem também como, com energias renováveis, estamos condicionados pelo tempo, como no caso da solar e da eólica. Isto quer dizer que, para o país ter energia quando quer e não apenas quando está vento e sol, temos que usar baterias, artificiais ou naturais, para melhor distribuirmos eletricidade pelo dia. Como a rede elétrica do futuro vai ser descentralizada e dependente, não de uma grande central mas sim de várias instalações, muitas nas casas privadas das pessoas, muito vai ter que mudar na sua gestão. Este servidor na casa pode ajudar a recolher dados sobre os nossos painéis solares e os nossos consumos energéticos, para serem depois usados para as empresas energéticas melhor calcularem as necessidades do país e melhor distribuírem energia.
Como estes servidores funcionam com base num princípio de descentralização, existe um grande benefício de segurança: no caso de catástrofes naturais deitarem abaixo a rede de internet, estes servidores podem entrar em modo emergência e correr aplicações de mensagens de emergência, não só para pessoas poderem falar umas com as outras mas para que serviços de emergência também possam comunicar com o país. Naturalmente, quando regimes autoritários deitam a internet abaixo para controlar o país, estes servidores também seriam úteis para contornar isso. No entanto, é improvável que regimes autoritários sequer aprovem a venda destes servidores nos seus países (mas, como os padrões usados são universais e a tecnologia amplamente disponível, nada impede ninguém de a usar, mesmo contra ditaduras).
Queres ter o teu próprio email hospedado no teu servidor? Também é possível. Diferentes empresas podem-te vender o código necessário, umas oferecendo um código grátis, com menos funções ou outras um código mais robusto e seguro. É como tu quiseres.
Considerem também como, quando usamos redes sociais, nós é que somos o produto. São os nossos dados que são usados para vender anúncios (e gerar milhares de milhões de euros em lucros, dos quais nós não vemos um cêntimo). Continuando com o princípio de controlo do que é nosso, através de novas leis, os nossos dados que são explorados devem estar do nosso controlo, onde nós é que decidimos partilhar o quê com quem. Ora, usando a memória do nosso servidor, podemos aí guardar os nossos dados, onde sabemos quem os acede e como. E se quisermos, os apagar inteiramente.
Enfim, as possibilidades são imensas, dependendo apenas de quanto dinheiro queres gastar em equipamento e código (ou tu próprio o desenvolveres).
Quarto, temos que lutar pelas mudanças profundas e não nos deixar levar por superficialidades supérfluas
Isto é, no entanto, tudo muito bonito aqui escrito mas muito diferente na realidade. Parte-se do pressuposto que as pessoas têm os mínimos de educação e que atuam dentro dos seus interesses. Parte-se, no entanto, de um pressuposto inverso à realidade. Regularmente vimos gerações antigas a favorecerem empresas petrolíferas mesmo sabendo os problemas ambientais que causavam. As gerações de hoje favorecem as grandes empresas tecnológicas que se aproveitam de nós, apesar de já haver imensas provas contra elas. Imensas pessoas continuam a ler pouquíssimo e a obter notícias de meios incompletos, desonestos e mentirosos, apesar de todos dizerem ser a favor de bons e justos média. Toda a gente quer salários maiores sem ninguém ter o mínimo de educação financeira. Prova disso são os telemóveis que compram todos os anos com os mesmos erros e os mesmos prazos de validade curtíssimos. Outro exemplo da ignorância económica do povo são as toneladas de roupa produzidas anualmente, usadas uma vez e encostadas para o fundo do armário. Polui-se o ambiente, escravizam-se pessoas e, no final, acaba tudo no lixo.
Vivemos numa era de híper normalização, onde grandes empresas dizem-nos que a próxima geração é sempre melhor e que é preciso comprar novo para ter os novos benefícios. Onde ano após ano é lançado lixo derivativo que é o melhor de sempre mas que daqui a dois anos deixa de ser atualizado. Atualizações de software pesadas e pouco otimizadas são inventadas para taxar o hardware e induzir a compra nova. Soluções para problemas que não existem são vendidas a pessoas que nada sabem e nada querem saber, comprando todos o mais brilhante e recente objeto, por mais inútil e fraco que seja. Sempre sem que ninguém questione nada, a híper normalização do lixo.
Ou seja, novamente, é muito bonito escrever aqui que este servidor e a sua ideologia podem mudar o mundo e a internet mas, com uma população mundial com níveis de educação paupérrimos, nada disso acontecerá. Vamos assumir que as alterações à lei aqui mencionadas são aprovadas e passa a existir a possibilidade de este pequeno país iniciar enormes alterações a toda a internet mundial. Se, mesmo com todo o esforço que é feito, nós continuamos a usar a mesma porcaria alugada às empresas de telecomunicações e se continuamos na mesma a usar os mesmos produtos fechados e fracos das multinacionais estrangeiras, então, meus caros, o problema somos nós. Se nós compramos lixo, as empresas continuam a vender lixo.
Por toda a história, sempre que grandes desregulações são propostas, encontramos sempre exemplos daquela uma pessoa a advertir sobre as consequências nefastas que inevitavelmente vimos acontecer. Na génese da democracia, na antiga Grécia, foi advertido que pessoas ignorantes podiam ser influenciadas negativamente por políticos corruptos. Hoje, regularmente vemos notícias de pessoas que se demitiram dos gigantes tecnológicos por terem avisado várias vezes de possíveis consequências negativas, que inevitavelmente vimos acontecer. Claramente, ainda pouco aprendemos da nossa história. Exemplos não faltam. Sempre que algum problema surge, a nossa solução para tudo é aumentar os salários. Mais dinheiro justifica tudo, sanitiza todo o mal.
A questão coloca-se: é claro que a internet não se tornou naquilo que foi prometido e existem várias pessoas a proporem várias alternativas e soluções. Vamos fazer algum esforço para a equilibrar ou vamos continuar a usar serviços “grátis” que nos quantificam como robots e nos vendem a quem pague mais alto?
A mudança requer esforço. O Facebook não é importante. O telemóvel mais recente não é necessário. Mas protegermo-nos de empresas gigantes que têm enormes lucros sem pagar um cêntimo de impostos é urgente, pois lentamente elas entranham-se profundamente em todos os cantos e causam distorções à nossa realidade que são cada vez mais difíceis de corrigir.
Existe uma atitude complacente muito forte em nós: “e o que queres que faça? Oh!”. Bom, que tenhas educação. Boa e melhor educação é necessária, sempre, para que lutes por boas mudanças e não te deixes levar por perigosos conformismos.
O país somos nós. A internet somos nós. E apenas com pequenos gestos de todos nós é que conseguimos grandes mudanças. Nada que vale a pena é fácil.