O dinheiro é bastante útil. Tem um valor acordado e, através de instituições financeiras (estáveis) ele não flutua muito. E graças a isso podemos muito mais facilmente regatear e trocar os nossos bens. Mas não devemos viver as nossas vidas em torno dele. Não, extremismos não são sustentáveis. Uma sociedade puramente capitalista não funciona. De igual modo, nem uma sociedade puramente autoritária, socialista ou comunista funcionará. Aliás, os exemplos históricos disso são vastos. E, tendo em conta o recente extremismo do capitalismo, podemos adicionar mais um capítulo a essa história.
Apesar da riqueza mundial ter aumentado drasticamente nas últimas décadas, esse aumento foi e é cada vez mais desigual. As diferenças entre os super-ricos e os pobres são gigantescas, e estão a aumentar. Aliás, chegou a um ponto de tal maneira desmesurado que já nem nos referimos à diferença entre ricos e pobres, mas sim de super-ricos e apenas pobres. E as pessoas estão a atingir os seus limites.
64% dos britânicos acham que o capitalismo agrava a desigualdade. Na Alemanha, esse número é de 77%. Até nos EUA, o ponto forte do capitalismo, esse descontentamento chega a 55% da população. De igual modo, a esmagadora maioria das pessoas acham que as grandes empresas são corruptas e sujas para o ambiente. No caso de Portugal podemos usar o exemplo da indústria do papel que desequilibra florestas e polui rios sem grandes consequências.
E pior para o futuro, em muitos dos países onde o capitalismo toca, as pessoas não esperam que os seus filhos sejam mais ricos, seguros ou saudáveis que eles.
O perfeito exemplo dos telemóveis
Mas os problemas do capitalismo não se limitam apenas aos impactos causados diretamente no bem-estar de uma população. Para ilustrar o quão insustentáveis somos, de um ponto de vista capitalista, usaremos o perfeito exemplo dos telemóveis.
Começando no ponto zero: para obtermos os materiais usados nos nossos telemóveis, crianças e adultos são explorados em condições sub-humanas sem o mínimo de segurança ou algo que se pareça. Povos indígenas estão a ver as suas terras abertas para removerem lítio, com falsas promessas de emprego e dinheiro enquanto esse minério atinge preços recordes por tonelada. E para retirar grafite, ar e água são poluídos com o muito fino pó desse minério, adoentando todos em seu redor. E isto apenas para as baterias. Os restantes componentes como os microprocessadores requerem todos outros processos igualmente nefastos para o ambiente.
Logo de seguida estes e muitos outros minérios são processados em fábricas, muitas na China, com regulações ambientais laxas para manterem os custos baixos. Novas rondas de poluição e problemas de saúde surgem.
E todos estes atropelamentos de condições laborais e ambientais básicas devem-se unicamente à singular busca do preço mais baixo. No caso da China, a mão de obra barata associada às muito laxas regulamentações ambientais tornam a mineração muito lucrativa, sem grandes consequências externas. Outros fatores como medidas governamentais para forçosamente manter o valor do yuan baixo, tornam a exportação ainda mais apetecível.
No caso de África, bom, não existe nada que impeça a anarquia que vemos, onde qualquer um pode fazer o que quer, pois, as instituições governamentais são muito débeis. Especialmente no Congo onde guerras civis e outros problemas severamente atrasam o desenvolvimento do país. As condições são ainda piores do que na China e ainda mais exploratórias, com ainda menores controlos ambientais ou laborais. E não parece que vá parar tão cedo.
E como empresas ocidentais não querem destruir paisagens inteiras nos seus países, usando equipamentos avançados, caros para seguirem as fortes legislações ambientais, resultando em minérios muito mais caros, é feita a escolha mais barata.
A exploração do ser humano
De seguida, estes minérios são combinados em elementos (que depois vão-se provar muito difíceis de reciclar) como os diferentes componentes de uma placa de circuitos ou uma bateria. Eventualmente, cada um destes componentes é combinado num telemóvel, numa fábrica. A mão de obra usada para esta assemblagem é quase sempre precária, sem segurança laboral, exploratória, com salários míseros e condições de habitação miseráveis. Aliás, até 2010, as condições eram tão más que o suicídio era mais economicamente positivo do que viver e trabalhar.
Novamente, a mão de obra barata sem proteções governamentais é escolhida para aumentar os lucros. Mesmo com salários mínimos nos países ocidentais, os lucros não seriam tão altos. Não só, mas como 90% da mineração dos metais raros usados nos microprocessadores ocorre na China, associando este monopólio ao da manufaturação, agiliza-se muito mais toda a cadeia de produção, não sendo preciso saltar entre alfândegas de diferentes países. Estando todas as mais difíceis e dispendiosas etapas dentro do mesmo país (país esse que artificialmente mantém as legislações ambientais e laborais laxas, assim como uma moeda barata) acelera-se toda a cadeia de produção e reduzem-se os custos.
No antro do capitalismo, Wall Street, se alguma empresa tentar melhorar a qualidade dos seus trabalhadores e aumentar os seus salários (táticas já mais do que provadas serem muitíssimo benéficas para todos envolvidos, trabalhadores e clientes), o mercado vai reagir negativamente a esta possibilidade de ligeiramente menores lucros mas melhores qualidades de vida para os trabalhadores. Tudo vale pelo último cêntimo dado aos investidores.
Já nada se repara, tudo se compra novo
Porém, como se não bastasse, toda esta violação ambiental e humana não é o fim. Não. A seguir vem a planeada obsolescência, recentemente confirmada pela Apple.
Os telemóveis topo de gama são publicitados como sendo os melhores de sempre, constantemente reinventados. Como se isso fosse possível, reinventar o mesmo objeto todos os anos. Telemóveis com os melhores e mais rápidos processadores, com RAM suficiente para executar todas as aplicações do telemóvel ao mesmo tempo e ecrãs com uma reprodução de cores incrível. Porém, sendo tão potentes estes novos telemóveis, eles parecem sempre durar os mesmo míseros dois anos que sempre duraram. Apenas recebem uma ou outra atualização de software, e, passados os dois anos, abrandam, encontram erros inesperados e a bateria decresce drasticamente.
Não deviam durar mais tempo, estes novos constantemente reinventados telemóveis topo de gama? Bom, depende em como se define topo de gama. Em números, sim, são: as suas memórias têm mais GBs, os seus processadores os com mais GHz e os seus ecrãs com mais pixéis e cores. Todavia, de resto, nada mais é de topo. Os seus designs são cada vez mais quebradiços e frágeis, menos adequados a um uso normal e mais a serem enfiados em capas, para se protegerem.
Para atingir espessuras cada vez mais finas, espessuras essas que são desconfortáveis de usar (mas fáceis de vender em publicidade), a espessura do vidro e da bateria são reduzidas. Resultado: o telemóvel torna-se cada vez mais frágil e a sua bateria cada vez mais pequena. E, tendo em conta que já atingimos o máximo de densidade de energia das atuais baterias, reduzir a espessura só vai reduzir a sua capacidade e piorar o desempenho (a possibilidade de explosões também aumenta).
Não só, mas quando estes dois mais vulneráveis elementos se quebram, repara-los é um pesadelo. Porquê? Porque através de escolhas de design, estes telemóveis são construídos com convolutos passos de maneira a que a sua reparação seja a mais difícil e medonha possível. Outra tática usada pela Apple, uma já muito experiente empresa nesta área, é usar atualizações de software para bloquear telemóveis que foram reparados por agentes não autorizados pela empresa. Outro método é negar a terceiros as ferramentas necessárias para mais eficazmente reparar os seus telemóveis.
Eventualmente, após muita agitação, a Apple lá recua em alguns pontos, apenas para os repetir até ninguém reparar, e eles permanecerem. Aliás, eles chegaram ao ponto de gozarem em público com computadores que são duradouros. “Triste” disse a Apple de um computador que dura 5 anos. “Triste” usar um computador tão velho como um de 5 anos.
Triste é também usar mão de obra explorada e um ambiente violado para criar computadores e telemóveis excessivamente caros que são vendidos com enormes margens de lucro para durar uma raquítica vida, apenas para depois serem substituídos por outros iguais, mas com uma peça ligeiramente melhor.
Mas voltando às hostis práticas de reparação. Porque é que elas existem? Bom, assim existe um menor incentivo em o consumidor reparar ele próprio o seu telemóvel ou o levar a lojas de terceiros. Sendo o processo de reparação complicado e tendo uma forte possibilidade de estragar o telemóvel, existe um maior incentivo de ou o levar a um reparador oficial (e assim contribuir com dinheiro de volta para a marca) ou então comprar todo um novo telemóvel.
Como na esmagadora maioria de países não existem leis que combatam estas práticas, as empresas podem gerar lucros desta maneira, sem grandes barreiras (salvo raras exceções). Perdem as nossas carteiras e perde o ambiente que é explorado para gerar matéria prima virgem para cada mal desenhado telemóvel que se parta. Indiretamente, perde também a profissão de designer que vê o seu nome arrastado pelo chão com estas práticas.
Deitar tesouros para o lixo
Estando o ambiente abusado para remover os minérios, o trabalhador explorado para maximizar lucros e o telemóvel desenhado para se partir com o primeiro toque, o que mais está errado com os telemóveis? A reciclagem. Ou melhor, a falta dela.
A Apple pode ter anunciado o seu robot que ajuda a desfazer iPhones antigos mas o problema é muito mais vasto que isso. Pela mesma razão que os telemóveis são difíceis de reparar com as suas complicadas construções, também são difíceis de reciclar. Como muito raramente os telemóveis são desenhados com o fim de vida em mente, o processo de separar os diferentes materiais de um telemóvel é muito difícil e caro. A obsolescência planeada agrava ainda mais este problema ao produzir cada vez mais telemóveis que duram cada vez menos tempo. Acresce ainda que muitas pessoas simplesmente os deitam no lixo convencional e não nos pontos de reciclagem adequados.
A União Europeia tem das legislações mais fortes neste sentido, com leis que obrigam as empresas a pagarem pela recolha e reciclagem do seu lixo eletrónico. Infelizmente, mesmo assim, apenas 35% desse lixo é processado corretamente. Em Portugal esse valor atinge os 42,5%. Existe inclusive a Convenção de Basel que impede que países exportem o seu lixo perigoso para outras nações. Esta convenção visa proteger nações menos desenvolvidas de serem uma lixeira de lixos perigosos para as nações mais ricas.
No entanto, essa convenção não foi ratificada pelos EUA, um dos maiores produtores de lixo e poluidores do mundo, onde o capitalismo prolifera e as legislações nacionais em termos de lixos eletrónicos são inexistentes. O que existe são escassas e espalhadas leis por alguns estados, mas nada de muito sério. Desta maneira, o seu lixo é exportado para países asiáticos como a China (embora a China tenha acabado essa importação para proteger o seu ambiente). Infelizmente, a Europa, apesar de ter ratificado a convenção, não a aplica a 100%. Por exemplo, cerca de 46 000 toneladas de lixo eletrónico são ilegalmente exportadas para a Nigéria todos os anos, partindo de países europeus. Este lixo é escondido em contentores que exportam veículos usados para serem revendidos na Nigéria.
Como a Convenção de Basel apenas bane a exportação de lixo perigoso e não de produtos usados, pode-se contornar e fugir a esta convenção exportando aquilo que é considerado lixo em países ricos para os países pobres, que ainda podem tirar uso dele. Como África não tem um grande poder de compra, muitas das suas comodidades são usadas, vindas de países mais ricos. Um exemplo são os veículos exportados, acima mencionados. De igual modo, eletrónica ainda tecnicamente funcional é exportada para lá (mas mesmo assim, 19% das exportações são não funcionais). Mas um computador de 2000 que consiga se iniciar e arrancar o sistema operativo, apesar de ser tecnicamente funcional, não é útil para ninguém.
E usando estes contornos, enormes quantidades de lixo acabam na mesma em países mais pobres, vindo de países mais ricos. E como África não tem as infraestruturas caras e complexas para lidar com este problema, o que acontece é que este lixo eletrónico é eliminado com fogo, poluindo imensamente o ar e os corpos de água em redor. De igual modo, como as pessoas a executarem estas ações não têm educação ou proteções de segurança, a sua saúde é imensamente impactada. E apesar de já haver uma ligeira indústria em torno de reaproveitar, revender, reutilizar e reciclar lixo ocidental em África, estas táticas de despejo deveriam ser muito mais controladas e reguladas.
E enquanto essas legislações mais fortes não passarem, a opção mais barata é a escolhida.
O que podemos fazer?
E como nota lateral, tudo isto acima escrito pode ser exatamente reaplicado à indústria têxtil, uma das mais poluidoras e exploradoras do mundo. Ela também tem enormes margens de lucro com base na moda rápida: peças baratas feitas e tingidas em muito poluidoras condições e cozidas por pessoas em muito precárias situações. Peças de roupa que muitas vezes são usadas apenas uns dias ou, pior, nenhuma vez. Aliás, a indústria têxtil é a segunda maior poluidora do mundo, a seguir à petrolífera. E somos nós que a alimentamos. É só uma t-shirt, é barata.
Estamos a destruir o ambiente, a poluir o ar e a água e a desregular ecossistemas. A saúde de inteiras populações está a ser desfeita enquanto trabalham em exploratórias condições. Tudo para nós podermos comprar maus produtos, mal desenhados e pouco duradouros que nem conseguem ser usados sem logo comprarmos uma quantidade de acessórios. O que é o mais recente sacana aspeto dos novos produtos tecnológicos: serem deliberadamente desenhados para te forçarem a comprar acessórios, para apenas os conseguirmos usar normalmente.
Mas, no final de contas, a culpa recai única e exclusivamente sobre nós. Somos nós que compramos estes produtos, mesmo sabendo as condições em que eles são construídos. Somos nós que os tratamos sem cuidado e os deixamos partir apenas para depois receber um novo do seguro, ignorando a poluição imensa dos nossos desleixos.
E nem nos damos ao trabalho de formatar e reiniciar o telemóvel antes de decidir comprar um novo. Sim, porque um simples reiniciar do software pode em muito melhorar a performance dos telemóveis. Mas nem isso fazemos. Dá muito trabalho. É chato, oh. Por isso compramos um novo, é mais fácil.
É mais fácil poluir e abusar do que ter o mínimo de cuidado.
Deve-se, então, ligeiramente reinterpretar aquilo que aqui foi escrito. As empresas puramente capitalistas não são, então, o pior problema que enfrentamos, de um ponto de vista sustentável, mas sim nós próprios. Somos nós que alimentamos toda esta gradual perdurante degradação dos nossos produtos, das nossas vidas e do nosso planeta. Somos nós que prontamente entregamos o nosso dinheiro pelo mais novo brilhante igualmente inútil como o anterior objeto.
Somos nós que adoramos o ambiente e somos nós que o poluímos. Somos nós que exigimos melhores condições de trabalho para nós e somos nós que rapidamente compramos produtos feitos em quase escravatura. Neste mundo capitalista, somos nós que o alimentamos e permitimos que ele expanda, criando as desigualdades que tanto odiamos.
Mas existem soluções, tanto do lado da população como do lado da legislação a empresas.
Quanto à população, principalmente, deve-se melhorar a sua educação. As pessoas devem melhor compreender o que realmente precisam e como devem gastar dinheiro para o terem. Isto requer tanto uma boa educação emocional, para podermos ser mais introspetivos, e uma educação económica, para mais corretamente gerirmos o nosso dinheiro.
Estando estes dois pontos implementados, deve-se de seguida estimular a constante curiosidade através de bons meios de comunicação social. As pessoas devem exigir mais e melhor dos atuais média em Portugal que apenas servem como câmaras de eco. Devem evitar ler notícias e ver telejornais que apenas servem para enervar e não informar. Desta maneira, podem estar mais a par das notícias e informações que realmente importam e não sensacionalismos que distraem.
Com este investimento a longo prazo na educação e conhecimento, espera-se que as pessoas passem a pensar primeiro não em comprar novo, mas sim em reutilizar. Evitar comprar o que não precisam por razões erradas e tentar antes tirar o máximo de valor daquilo que já têm. Estando estas duas opções esgotadas, pode-se então passar para uma nova compra, mas com objetivo em mente de comprar algo duradouro, genuinamente útil e adequado ás necessidades em questão. E uma vez feita a nova compra, esta deve ser corretamente usada e estimada, reparada em vez de deitada fora, para que o trabalho e esforço para a criar não tenha sido em vão.
Parece simples, não é?
E a legislação sobre as empresas?
Do lado das empresas, novas compreensivas legislações podem ser criadas e antigas modificadas.
Considerem a duração de vida útil de um telemóvel ou computador. Idealmente, eles duram uns bons 5 anos, no mínimo. Querendo isto dizer que durante esses 5 anos, devem funcionar sem grandes problemas ou complicações, no mínimo. Mas as suas garantias apenas cobrem os primeiros 2 anos. Tendo em conta o impacto ambiental de estar sempre a minerar matéria prima para construir novos quase descartáveis produtos, podíamos aumentar o período mínimo de garantia para 5 anos. Desta maneira, as marcas são muito mais incentivadas a produzirem produtos mais duradouros e resistentes e não fugazes com míseras iterações.
Sim, lucros serão reduzidos e algumas empresas mais pequenas poderão encontrar problemas em se manterem à tona. Para essas empresas, ajudas estatais de partilha de conhecimento e ciência devem ser implementadas para ajudarem estas empresas a produzirem produtos mais duradouros e valiosos.
Mas nem tudo será negativo. Ao ter estes mais longos períodos mínimos de usabilidade e garantia, existe uma mais forte possibilidade de os consumidores desenvolverem uma maior aliança à marca, por terem o mesmo produto durante mais tempo, com uma melhor qualidade de interação.
Aliás, na indústria automóvel, estas garantias mais longas são consideradas como um forte ponto de venda. Recentemente, representantes da Kia na Austrália disseram que, face a forte competição, podem aumentar a sua garantia de 7 para 10 anos. E como resultado dessa garantia acima do normal, as suas vendas aumentaram drasticamente.
De seguida, o direito à reparação da propriedade privada deve ser reforçado na lei. Legislações devem ser aprovadas que fortifiquem o direito de qualquer consumidor reparar os seus bens sem medo de depois serem inutilizados por uma má intencionada atualização de software. Lojas de terceiros devem ter acesso às peças oficiais da marca, peças essas que devem ser colocadas livremente disponíveis. Não só, mas devem também essas peças ser disponibilizadas pelo menos durante 10 anos após o lançamento do produto. De igual modo, manuais de reparação também devem ser ubíquos.
Imediatamente de seguida, leis devem ser redigidas que impeçam o desenho e construção de produtos deliberadamente difíceis de arranjar e reciclar. Para facilitar o processo de reparação, telemóveis e computadores não podem ser criados com um excessivo número de colas e parafusos com formas cada vez mais diferentes. Logo de início, um objeto deve ser concebido a pensar na sua futura reparação. E de igual modo, a sua reciclagem. Para evitar que complexos produtos sejam simplesmente triturados, resultando em baixos retornos de matéria reciclada, a desassemblagem do objeto deve ser de tal forma a ser fácil separar todos os diferentes elementos e materiais.
E do lado dos governos, investimentos sérios têm que ser feitos em infraestruturas de recolha e reciclagem destes lixos tóxicos. Aliás, a reciclagem de todo o lixo produzido por nós deve ser obrigatória perante a lei. E, como tal, empresas públicas e privadas devem surgir em torno desta economia circular para podermos maximizar os retornos desses processos, evitando ao máximo a exploração ambiental para obter matéria prima virgem.
Uma última atitude que os governos podem empregar é a de processar empresas por usarem práticas predatórias e exploradoras sobre trabalhadores vulneráveis. A lei deve passar a permitir que, mesmo que estas infrações ocorram fora do terreno nacional, não sejam ignoradas e continuadas. Empresas com elevados lucros resultantes desta exploração devem ser devidamente punidas e recondicionadas a melhor tratarem os seus trabalhadores.
O capitalismo é extremamente tóxico e divisivo, demasiado fraturante e destrutor. Não é minimamente viável para qualquer sociedade. E como vimos pela história, sociedades que seguiram exclusivamente uma ideologia, acabaram por falhar por essa cega escolha. É imperativo então que, para o futuro, escolhamos uma equilibrada seleção dos melhores pontos de cada ideologia e os misturemos em algo mais sustentável para todos os envolvidos. Senão, distopias tornam-se realidade.