Nos recentes anos tem-se notado um significativo decréscimo nos preços de boas televisões. Temos hoje as melhores, maiores e mais baratas televisões, com resolução 4K e HDR, reproduzindo um quase completo espectro de cores e contrastes. As novas TVs têm consumos elétricos muito baixos e são capazes de durarem várias décadas sem perderem a qualidade de imagem ou precisarem de ser reparadas. Se 4K é excessivo para ti, as com resolução 1080p são ainda mais baratas, mas igualmente boas e duradouras.
De igual modo, bons e variados sistemas de som também têm vindo a baixar de preço. Existem agora muitas diferentes marcas a oferecerem acessíveis barras de som com diferentes configurações, fáceis de instalar e capazes de uma muito alta qualidade sonora, complementando assim a boa imagem das novas televisões.
Consegues agora ter em tua casa equipamentos audiovisuais com qualidade capaz de rivalizar a dos cinemas sem precisares de gastar enormes quantidades de dinheiro. No entanto, ocorreu uma ligeira separação entre a tecnologia e o conteúdo: apesar de termos incríveis televisões e colunas, a esmagadora maioria dos vídeos que consumimos são comprimidos e de baixa qualidade.
Em vídeo comprimido, todos os pequenos detalhes que enriquecem uma imagem são removidos para ficar apenas o essencial, mais fácil de transmitir. A imagem é menos nítida e com uma menor profundidade de cores e pretos, com contrastes mais baixos. Os efeitos de compressão observam-se mais em vídeos com muitos objetos a mexerem-se como confettis, onde rapidamente a imagem se transforma num borrão de cores.
Os canais de televisão são todos vídeo comprimido com qualidade inferior à do painel. Muitos canais, mesmo em alta definição, têm imagens muito pixelizadas e “sujas” (basta ver a RTP1 e a TVI para o perceber). Outros canais, apesar de terem imagens mais limpas, têm qualidade muito inferior devido á compressão. Não só, mas regularmente até são os próprios canais que artificialmente estragam a qualidade das suas imagens com o efeito “telenovela” (forçar todo o canal a 50fps), onde, por melhor que a televisão esteja calibrada, a imagem já vem estragada do próprio canal.
4K em canais de TV é um tanto quanto redundante pois apesar da resolução ser ainda maior, a compressão também o é. Os ganhos são pequenos. HDR ainda menos suportado é, não só no conteúdo disponível, mas também porque existem vários padrões de HDR disponíveis e a indústria multimédia ainda não convergiu num (fragmentação).
Em serviços como Netflix, YouTube ou Vimeo, todo o conteúdo também é sempre comprimido para poder ser consumido rapidamente. Sim, alguns já suportam 4K e HDR mas continuam sempre comprimidos. Ou seja, por mais que estas tecnologias sejam adotadas, a compressão subtrai à qualidade para podermos ver o vídeo instantaneamente.
O som também não escapa, perdendo-se imensas frequências e amplitudes na compressão, ficando apenas dois simples canais para duas pequenas colunas (deve-se notar, no entanto, que quando boas televisões são vendidas com raquíticas colunas integradas, o que se espera é que o consumidor compre um sistema de som dedicado pois as colunas nessas televisões são fracas já com esse propósito, de serem substituídas). E mesmo quando bons sistemas de som são suportados, o áudio continua a ser comprimido. Toda a profundidade, amplitude e equilíbrio dos pequenos detalhes sonoros são perdidos.
Mas existe ainda mais um entrava à boa qualidade de imagem: as configurações das próprias televisões. É mais do que sabido que mesmo com todo o seu avanço de hardware, os menus das TVs são difíceis de manusear (salvo raras exceções) e estão cheios de opções supérfluas. Essas opções são o limpar artificial de ruído, a interpolação de mais imagens para artificialmente suavizar o vídeo, a mudança “inteligente” das cores e luminosidade, entre outras. A lógica usada é uma de “esta TV tem mais funções que esta por isso deve ser melhor” apesar de ser tudo inútil e prejudicial para a qualidade da imagem. Estas funções rarissimamente são necessárias e são apenas criadas para as marcas poderem preencher brochuras para aliciar consumidores que nada sabem sobre o assunto (a maior parte das pessoas não muda as configurações das suas TVs ou boxes, criando a mais distorcida imagem, chegando ao ponto de terem imagens em 480p em painéis 4K).
Ou seja, temos a melhor tecnologia usada com a mais rotineira qualidade: um enorme desperdício.

Para o dia-a-dia, vídeo comprimido serve
Mas, vídeo comprimido não é mau, muito pelo contrário. Quando bem usado, a sua utilidade é imensa. Permite-nos transmitir emissões de televisão ao vivo com boa qualidade para todo o país, simultaneamente. Permite-nos ver pequenos vídeos instantaneamente e dá-nos acesso a imenso conteúdo por toda a internet sem termos de ter ligações com velocidades de centenas de megabits. Não só, mas com vídeo comprimido, as infraestruturas da internet usadas para distribuir informação não precisam de ser tão robustas, gastando imensos recursos só para termos um ligeiro amento na qualidade de vídeos do YouTube. Nesse sentido, vídeos comprimidos são de alta qualidade, eficientes nos recursos necessários.
Para vermos o noticiário ou uma série de desenhos animados, vídeo comprimido serve. Para telenovelas repetitivas sempre com os mesmos atores, cenários e enredos, não é necessária uma melhor qualidade de imagem. Vídeo comprimido rotineiro é mais do que suficiente, visto que o original nunca teve grande qualidade para começar.
No entanto, para televisões capazes de imagens absolutamente incríveis, é desadequado e quase desrespeitador as desperdiçar com os piores canais de TV com a mais fraca e suja imagem. Dá a impressão que quem comprou a TV gastou dinheiro só porque os números no panfleto eram os maiores, sem saber o que estava a comprar. Porque apesar de vídeo comprimido ser útil, ele é imensamente inferior à qualidade máxima que as novas televisões são capazes de oferecer. O equivalente a comprar um Ferrari apenas para o ter na garagem.

Um retorno ao passado, com toques do presente
Para justificar comprar uma tão boa televisão, existe uma boa solução: os Blu-rays (e o seu aluguer). Sim, apenas com discos Blu-ray é que podemos obter conteúdos não comprimidos que consigam aproveitar a 100% as nossas novas televisões com 4K, HDR e OLED, para podermos ver conteúdo multimédia como ele foi editado, com toda a sua qualidade.
Todo o televisor e sistema de som passam a ser usados devidamente, aproveitando todas as suas qualidades, oferecendo uma experiência onde são os detalhes que a constroem. As imagens passam a ter toda a profundidade de cores pretendida e o áudio passa a ser nítido e amplo. Não existem mais imagens borradas e desfocadas nem sons esquecidos na compressão. As cenas escuras ficam ainda mais sombrias e paisagens coloridas ficam com as cores ainda mais realísticas, onde os pequenos sons ambientais não ficam esquecidos em colunas emagrecidas.
Apenas com discos capazes de guardar dezenas e até centenas de gigabytes é que nós conseguimos obter uma qualidade de imagem e som profunda, sem compressão. Mas como muita gente não tem interesse em pagar 20€ (ou mais) por um filme que só vai ver uma vez, por mais boa que seja a qualidade, coloca-se então de novo em jogo o aluguer. Sim, o retorno da Blockbuster, ou algo similar, para competir com a Netflix e YouTube.
Neste cenário, um serviço de aluguer de discos Blu-ray poderia ser implementado de duas maneiras (como já em tempos aconteceu): com pequenos quiosques em grandes superfícies comerciais ou via correio. Pequenos quiosques podiam ser colocados em hipermercados onde pessoas pagariam no momento por alugueres singulares ou então um serviço de subscrição poderia ser criado onde todos os meses, novos discos seriam enviados para casa. Estando os filmes vistos, ou seriam retornados aos quiosques ou recolocados no correio, para devolver.
E sim, estas opções aqui descritas são imensamente similares às que em tempos existiram e falharam para o Netflix e YouTube. A diferença aqui é que este serviço seria por defeito mais pequeno, apenas direcionado ao mercado mais alto, de melhor qualidade de imagem e som, e não ao de consumo rotineiro. Pretende-se com este artigo oferecer aos filmes aquilo que o vinil fez para a música: uma ocasional experiência para saborear e não para apenas consumir desmesuradamente, uma excecional apreciação de bons filmes e séries.
Tecnicamente, também é possível obter esta qualidade descomprimida de vídeo via internet, num serviço similar ao Netflix. Só que mesmo com as ligações mais rápidas à internet disponíveis, transferir um filme de centenas de gigabytes demoraria muito tempo (as novas ligações com velocidades gigabits serviriam bem um serviço destes). Isto não seria, por si só, um impedimento (pois por correio demoraria ainda mais), mas iria também requerer que consumidores tivessem computadores com centenas de gigabytes disponíveis na memória. Novamente, retirando outro exemplo da indústria da música, já existem serviços de transmissão focados em música descomprimida (flac) como o TIDAL.
Existe, no entanto, uma última pequena vantagem que os discos têm em relação a transmissões via internet: extras como cenas bónus, cortes e comentários do diretor, entre outros. Estes extras quase sempre existem apenas em discos para incentivar a sua compra (ou aluguer) em relação à transmissão via internet.
Consideremos o seguinte exemplo: para um casal de meia idade que pouco uso tem para uma ligação rápida à internet, o aluguer de discos para ver durante algumas noites por mês é mais apetecível. Não têm que lidar com computadores e podem apenas pegar no disco e o introduzir no leitor, sem complicações. Mas para casais mais jovens que já estejam mais familiarizados com eletrónica de consumo e já tenham bons computadores e ligações à internet, a transferência de Blu-rays talvez faça mais sentido. De qualquer das maneiras, o resultado final é o mesmo: uma experiência casual para apreciar, com tempo, a melhor qualidade de cinema em casa.
Acima de tudo, estas diferenças no consumo devem ser vistas como vantagens e não como problemas. Vídeos no YouTube e Netflix são para consumo rápido e imediato enquanto que filmes ou séries em Blu-Ray são para apreciar, para dar tempo para ver e digerir. Um tem uma importância menor e, como tal, pode ser consumido mais regular e inconsequentemente. O outro já tem outro nível de qualidade que requer mais tempo e preparação para apreciar. Já por isso um serviço de aluguer se adequa, porque quem quer aproveitar a máxima qualidade do seu equipamento fá-lo com tempo para apreciar, disposto a esperar pelo disco que dá a melhor qualidade, e não deitado de lado no sofá com chá morno e bolachas moles a carregar em “Ver próximo episódio” até adormecer.
As falsas funções para preencher panfletos de televisões vão continuar a ganhar em detrimento daquilo que é mesmo útil, e os consumidores, sem saberem o que está à frente deles (e muitos não querem saber), são enganados por elas. As pessoas ainda têm uma péssima educação financeira e gastam muito mal o dinheiro. Não sabem o que precisam, acabam por comprar o que querem e não dão uso ao que têm. No entanto, podem pelo menos complementar as suas más decisões financeiras com um bom filme, em toda a sua glória em 4K e HDR, num lindíssimo painel OLED.
Ah! E sempre sem esquecer as consolas de jogos também são capazes de gerar lindíssimos estilos visuais, em perfeita qualidade, com histórias e cenários capazes de rivalizar e superar imensos filmes de Hollywood. Já há muito tempo que os jogos deixaram de ser apenas sobre tiros, para adolescentes.