As baterias são o calcanhar de Aquiles de qualquer dispositivo elétrico móvel: telemóveis, portáteis, carros. São a peça com menos desenvolvimento científico ao longo dos anos, quando comparada aos restantes componentes computacionais. Processadores são agora capazes de incríveis cálculos e uma performance altíssima. Temos ecrãs com reproduções de cores incríveis. No entanto, as baterias continuam a explodir e a incendiar com o mínimo de impacto.
Com a tecnologia de iões de lítio que as baterias usam hoje, existem muitas imperfeições e imprecisões. São sensíveis a mudanças de temperatura, lentas a carregar e lentas a descarregar. Têm uma densidade energética relativamente baixa e decaem significativamente com o tempo. Com cada carregamento que fazemos, elas perdem a sua força. E como os telemóveis de hoje consomem muita energia e têm cada vez mais finas e pequenas baterias, a sua vida útil decresce ainda mais.
Não só, mas para piorar ainda mais a festa, existem os carregadores rápidos, que carregam rapidamente a bateria num curto espaço de tempo. Como as baterias já são lentas a carregar, estar a forçar esse carregamento, apenas acelera o seu desgastar. Consequentemente, acaba por ter uma vida útil mais pequena. Por estas (e outras razões), com o decair da bateria, natural ou forçado, ela não consegue dar a energia necessária ao telemóvel. Os seus elétrodos começam a perder o seu vigor.
E é aqui que começam os problemas.
Existem duas variáveis a considerar: a diferença de potencial (volts, V) e a intensidade da corrente (amperes, A). A diferença de potencial é a força que vai movimentar os eletrões (amperes) pelo circuito. Como as baterias de iões de lítio usam processos químicos para forçar uma diferença de potencial, através de múltiplos carregamentos, estes processos químicos degradam-se e a diferença de potencial começa a decrescer, assim como a corrente fornecida. Sendo assim, a bateria não consegue fornecer a energia que o telemóvel precisa.
Muitas baterias decrescem para 80% da capacidade após 300 a 600 ciclos de carregamento, mas isto não quer dizer que a mesma bateria no mesmo telemóvel tenha sempre os mesmos resultados. Diferentes pessoas usam o telemóvel de maneira diferente, o que leva a desgastos diferentes.
É aqui que entra o ponto principal deste artigo: muitas das vezes, os nossos telemóveis ficam lentos porque a bateria envelheceu e deixou de conseguir fornecer a energia necessária. Como o processador e os restantes elementos do telemóvel não têm a energia que precisam, não podem funcionar a 100%.
O melhor a fazer, então, quando o teu telemóvel atingir níveis baixos de performance é substituir a bateria por uma nova. Se o ecrã, os rádios, o processador e as portas ainda funcionam bem, não existe razão nenhuma em comprar um telemóvel novo quando é apenas a bateria que tem um problema. Desta maneira, gastas apenas algumas dezenas de euros na revitalização de um telemóvel perfeitamente funcional, evitando gastar centenas num novo.
Dependendo do telemóvel ou portátil que usares, existem aplicações que podem ser instaladas que te dizem a saúde da bateria. Dependendo dos resultados destas análises, podes decidir se deves ou não comprar uma bateria nova.
Sim, atualizações de software também são responsáveis por alguns atrasos, especialmente atualizações que apenas adicionam funções e não otimizam nada (o que é comum, infelizmente).
Uma outra enorme valiosa vantagem de substituir a bateria é a proteção ambiental. Ao apenas comprares um novo componente, estás a evitar o desnecessário consumo de matéria prima para fazer todo um novo telemóvel. Atualmente, muitos dos minérios usados nos nossos produtos eletrónicos vêm de zonas de conflito ou então de países com legislações ambientais muito laxas. Isto quer dizer que é normal o teu telemóvel ser feito com mão de obra explorada ou mesmo escravizada e com recurso a materiais capturados e processados de maneiras muito poluidoras.

No entanto, trocar a bateria não é garantia de melhor performance
Mas, infelizmente, hoje em dia, os telemóveis não são desenhados para serem reparados ou alterados. São mais desenhados como blocos inacessíveis de uso único. Os seus designs são fechados e hostis, não contemplando reparações ou o seu fim de vida. São vendidos como objetos sensacionais, não para serem usados ao longo de vários anos, mas para serem vistos como símbolos de luxo e estatuto, substituíveis a cada 2 anos. São construídos de maneira a que as marcas controlem tudo e tu tenhas o mínimo de liberdade possível. São vendidos sem nunca mencionarem a sua potencial longevidade graças a futuras reparações. Que é quase nula.
Se houver um problema, é mais fácil comprar novo do que reparar. Isto porque a reparação é encarada pelas marcas como algo a evitar, algo que reduz os lucros da empresa. Geras muitos mais lucros cada vez que compras um telemóvel novo a cada 2 anos, em vez de reparar uma bateria. E quando essa reparação ocorre, ela é incentivada a ser feita pelos canais oficiais, mais caros. E isto é errado. Esta atitude é absolutamente deplorável e reprovável nos dias de hoje. Aliás, sempre foi e sempre será.
E mesmo que repares o teu telemóvel, não é certo que ele funcione corretamente como antes. Como o design de produtos de hoje não contempla a sua reparação ou o seu fim de vida, reparar uma peça ou a substituir por outra igual não significa um retorno à normalidade. Bastam apenas alguns minutos na internet para encontrar uma série de relatos e problemas com todos os telemóveis no mercado: baterias que são substituídas e duram ainda menos tempo, ecrãs com falhas, reparos não autorizados e erros de software derivados das novas peças.
Se o interior do produto fosse desenhado com vista à expansão, usando conectores mais robustos e fiáveis, a sua reparação seria muito mais simplificada. Mas muitos interiores eletrónicos são desenhados de maneiras muito compactas e difíceis de aceder. Isto faz com que mesmo que os consigas abrir, dificilmente voltem a funcionar normalmente. Alguns produtos nem têm maneiras de serem abertos sem serem destruídos.
Este é um dos principais problemas do design atual de telemóveis: muito finos e frágeis, facilmente destruídos e difíceis de reparar e reutilizar. Tudo características que nenhum consumidor quer, mas que todos acabam por comprar.
A Apple chega ao insultuoso ponto de desativar o teu telemóvel se ele for reparado por terceiros. Aliás, a empresa nem disponibiliza a lojas de reparação todas as ferramentas necessárias à correta reparação dos seus produtos. E quanto às lojas de reparação “certificadas”, elas têm que pagar à Apple um imposto para terem essa “certificação”. E apenas podem reparar ecrãs e baterias. O resto têm que mandar para a marca. Isto tudo para tentar ao máximo negar a tua autonomia sobre o que é teu. Para a Apple, se queres reparar o telemóvel, é nas lojas deles com as peças deles.
As restantes marcas não são muito melhores. É regular o serviço de peças pós-venda ser irregular, tendo que muitos centros de reparação recorrer a terceiros. Passados alguns anos, peças para a reparação tornam-se mais difíceis de encontrar, exatamente quando são mais necessárias.
Outro problema é como o software está desenhado. Muitas vezes, substituir peças ainda implica alguma adaptação por parte do software. Ou seja, usando o exemplo das baterias, não basta apenas tirar a velha e colocar a nova. O telemóvel vai ter que calibrar a bateria para saber qual é o seu estado de carga máxima e mínima. Mas quase nenhum sistema operativo tem estas ferramentas prontamente disponíveis. Ou tens que instalar aplicações extra ou então recorrer a guias na internet. Nem o Windows, um sistema operativo já veterano, tem essas funções facilmente acessíveis. É preciso recorrer à linha de comandos ou a aplicações secundárias para monitorizarmos o estado da bateria.
Novamente, repetindo o que foi dito sobre o hardware, nem o sistema operativo é desenhado a pensar na reparação.
Por estas (e outras) razões é que, mesmo que substituas a bateria, não é garantido que a performance melhore. Por várias razões e pequenos problemas e detalhes, a substituição de uma bateria pode dar ainda mais problemas. Outro problema é o uso de baterias não oficiais que raramente cumprem o que dizem fazer. É recomendado que, para substituições de baterias, se usem apenas as oficiais.

De qualquer das maneiras, a atual tecnologia de baterias é má e não existem alternativas futuras a curto ou médio prazo
Independentemente do telemóvel que tenhas, da marca do teu portátil, do carro elétrico que escolhas, uma coisa é certa: a atual tecnologia de baterias é completamente desadequada às nossas necessidades. E pior de tudo, não existem alternativas à vista.
Considerem o carro elétrico como exemplo. O motor elétrico tem uma eficiência energética de 95%, comparado com 25% do motor a combustão interna. A simplicidade mecânica do carro elétrico é enorme, quando comparada à dos a gasolina. E não existem emissões poluentes. Só têm um pequeno (enorme) problema: as baterias usadas para armazenar a energia necessária são péssimas. São bombas de ácido, muito pesadas e muito sensíveis a alterações de temperatura. Ah, e têm uma longevidade muito menor que a gasolina.
Muitos dos primeiros exemplos de automóveis eram elétricos. E eram preferíveis por muitos consumidores: mais fáceis de conduzir e manter, menos barulhentos e poluidores. Só que como percorriam apenas alguns quilómetros, e o petróleo estava facilmente acessível a todos, o motor a combustão interna e o seu maior alcance ganhou, apesar de ser em todo o resto inferior. Há 100 anos atrás, os carros elétricos tinham as mesmas vantagens e desvantagens que os carros elétricos de hoje, por causa das baterias.
Voltando à eletrónica de consumo. Nós até agora estivemos o tempo todo ligado a tomadas. Os nossos computadores eram torres e os nossos telefones fixos. Apenas há duas décadas é que essa moda começou a reverter, tendo atingido os valores altíssimos de mobilidade que vemos nos dias de hoje. Só que no meio desta transformação toda, ninguém investiu em novas tecnologias de bateria. Melhoramos em grandes saltos as memórias e processadores, mas quase nada as baterias.
Tendo em conta o quão más as baterias atuais são e o quão extremamente importantes para o nosso futuro elas vão ser (energias renováveis e armazenamento elétrico na rede), o próximo país a desenvolver uma nova tecnologia de armazenamento que melhor responda às nossas necessidades vai ser imensamente rico e comandar uma grande dose de influência política sobre os restantes.
No entanto, infelizmente, não parece que ninguém esteja minimamente próximo de encontrar essa tecnologia do futuro. As baterias ainda vão ser más por muitos anos.

Leis fortes que protegem o direito à reparação e banam a obsolescência planeada devem ser implementadas
A cega economia de consumo na qual vivemos, que nos induz a comprar novo a cada 2 anos em vez de reparar, está a danificar seriamente não só as nossas carteiras, como a nossa ligação ao mundo, indicando que apenas com boas e novas posses materiais é que ficas validado. O ambiente está a ser destruído a cada dia que passa com a nossa captação de matéria prima, nivelando montanhas e poluindo rios inteiros. E mesmo que paremos de poluir hoje, aquilo que já poluímos até agora ainda se vai sentir durante centenas de anos.
E nós, cegos e ignorantes, sem colocarmos uma única questão, aceitamos tudo o que nos põem à frente, apontando sempre o dedo a outros quando algo errado acontece. “O meu telemóvel já está lento e ainda agora o comprei? Já não se fazem como antigamente!”, diz o consumidor resmungão que continua a comprar os mesmos telemóveis, vezes e vezes sem conta, nunca se questionando que se calhar é a sua má compra que está a estimular este ciclo de má qualidade.
Porque acima de tudo, somos nós, os consumidores, que validamos estes modelos de negócios hostis a nós próprios. Somos nós que todos os anos compramos o mesmo telemóvel, mas com um aspeto diferente. Somos nós que dizemos às marcas, com o nosso dinheiro, que elas podem continuar a nos vender maus produtos, difíceis de reparar, extremamente poluidores e feitos com mão de obra explorada.
Para resolver este problema, existem dois caminhos que têm de ser percorridos simultaneamente por duas entidades diferentes: a população e o governo.
Nós, como consumidores, temos o dever de comprar com mais inteligência, comprando produtos mais duradouros, e os usar o máximo de tempo possível. A reparação deve vir sempre antes da compra nova. E quando atingir o seu verdadeiro fim de vida, o produto deve ser corretamente reciclado. Incontornavelmente, somos nós a maior força, os mais capazes de mudar estas práticas. Fomos nós que as alimentamos, somos nós que as eliminamos.
De seguida, é muito importante que o governo também atue, impondo severas novas legislações que forcem as empresas que operem em Portugal a terem serviços de reparação oficiais durante pelo menos 5 anos pós-venda. Os produtos vendidos devem ser desenhados com reparações em mente, com desenhos menos fechados e difíceis de reparar. Guias oficiais de reparação devem ser disponibilizados abertamente e lojas de reparação devem ser capazes de reparar qualquer produto, dentro ou fora da garantia, sem a invalidar. O uso de peças de terceiros também não deve ser impedido.
A obsolescência planeada deve ser absolutamente ilegalizada para que empresas como a Apple não te abrandem o telemóvel sem tu saberes e telemóveis com Android nunca sejam atualizados, apesar de serem capazes de o ser. Os sistemas operativos devem incluir, por defeito, programas que permitem observar a saúde da bateria e indicar uma substituição quando necessário, para evitar comprar novo.
Seria de esperar que as baterias, sendo tão más, fossem mais fáceis de reparar. Mas não são. Aquilo que é comprado com o teu dinheiro deve ser usado por ti como tu queres e não como as empresas querem.
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Actualização: foi adicionada a informação que os centros de reparação autorizados da Apple são forçados a pagar à Apple um imposto.