Precisamos hoje, mais do que nunca, de boa educação. O relativo crescimento do mundo é enorme, cada vez maior, mas a nossa educação não está a acompanhar esse crescimento.
Precisamos hoje, mais do que nunca, de boa educação. Os populismos e mentiras estão a aumentar, ao dia, mas a nossa educação não nos preparou para o pensamento crítico hoje necessário.
Precisamos hoje, mais do que nunca, de boa educação. Com o acesso a toda a informação de todo o mundo de todas as eras na ponta dos nossos dedos, para não sermos levados por cegas opiniões ou maus julgamentos, precisamos de uma boa educação como defesa.
Precisamos hoje, mais do que nunca, de boa educação. Num mundo onde todos estamos ligados e onde conseguimos ver mais longe do que alguma vez vimos, até aos confins do espaço, esquecemo-nos de ver o que está imediatamente à nossa frente.
Precisamos hoje, mais do que nunca, de boa educação. Numa voluntária ou involuntária mistura de culturas, esquecemo-nos dessas diferenças, de reconhecer as suas origens e de as conciliar.
Precisamos hoje, mais do que nunca, de boa educação. Num caótico presente, apesar de termos rápido acesso a toda a história e múltiplas previsões do futuro, atuamos cegamente sobre apenas os nossos errados pequenos caprichos.
Precisamos hoje, mais do que nunca, de boa educação.
Como eramos, como somos, como vamos ser
O mundo era mais pequeno. As nossas relações mais limitadas. O nosso alcance mais local. O nosso impacto mais imediato. Mas, agora, estamos muito longes disso.
Hoje, o nosso mundo é pleno e inteiro, com poucos cantos por descobrir (o fundo dos oceanos e escassos densos centros florestais). As nossas relações facilmente atingem o oposto fuso horário. Conseguimos ver constantes emissões de vídeo de vários pontos do planeta. E, estando na nossa casa, pouco fazendo, impactamos esses longínquos locais. E esse impacto é cada vez mais duradouro.
Para onde vamos, não sabemos. Mas se queremos ter um futuro digno de viver, temos que mudar.
O que está errado com a sociedade?
Bom, estamos todos desligados, mas ainda dependentes uns dos outros. Vivemos numa sociedade, mas não em sociedade. Com a enorme multiplicidade de experiências, culturas, personalidades, identidades, políticas, inclinações, orientações e tendências, fomos todos para o nosso canto, o nosso cada vez mais específico, pequeno, fechado canto. A híper-especificação da sociedade de hoje levou-nos a fecharmo-nos cada vez mais na nossa minúscula, pequena zona de conforto. A internet e a proliferação de redes sociais e outros canais ajudaram neste resultado.
Para fugirmos dessa turbulência na sociedade, do berrar constante de más notícias, estúpidas, parvas, enganadoras, inúteis notícias e opiniões que ninguém pediu, nós fechamo-nos nos nossos grupos de apoio, de conforto, nos sites que nos põem um sorriso na cara. Num mar de milhares de fontes de notícias, não conseguimos conciliar uma saudável absorção dessa multiplicidade e, infelizmente, o que aconteceu, foi o recuar no progresso. Em vez de lermos um bocado de cada publicação e termos uma mais vasta e cheia, completa visão do mundo, fechamo-nos na confortável, singular fonte de informação que nos dá tranquilidade. O tribalismo, as caixas de eco, as bolhas, etc.
Isto aconteceu, em parte, porque mantivemos o conforto e conformismo de gerações anteriores. O mundo mudou drasticamente do dia para a noite e não conseguimos acompanhar toda essa mudança. Associando o conformismo com a híper-especificação, conseguimos ficar parados na transição, confortáveis.
Somos todos médicos, doutores, políticos, economistas, cientistas, …
Ironicamente, tendo uma quantidade de informação em constante crescimento, continuamos a nos basear em títulos e clichés para definir grandes setores do nosso caráter. Vemos um título na internet, verdadeiro ou falso, real ou satírico, e sem sequer ler o subtítulo, começamos a formar opiniões. Ora, estas atitudes sempre existiram no ser humano, claro. Mas tendo em conta a diversidade de informação no mundo de hoje, dos balanços e contrabalanços, seria de esperar que esse comportamento diminuísse.
Problematicamente, devido à diarreia que são os canais de media, tanto em Portugal como no mundo, boas, importantes notícias são perdidas sem nenhuma atenção. Ao invés, é reproduzido o mesmo processado conteúdo, para agarrar olhos. Esta constante estimulação do nada, do vazio, do repetitivo vazio leva a que percamos o rumo que uma sociedade deve ter. Preocupamo-nos com o que não devemos e ignoramos o que da nossa atenção precisa.
Isto gera uma atitude superficial em torno de todos os assuntos mais importantes do dia: os jornais só publicam superficiais factos, as pessoas reagem efusivamente a eles, e, pior, os políticos só se sentem motivados a placar essa superficialidade. Problema: se as pessoas nada sabem e se apenas se preocupam com as coisas erradas, os políticos, por elas eleitos, iguais serão.
Raramente, atenção é dada aos problemas na educação. A esmagadora maioria do tempo de antena dos partidos políticos é gasto na economia e nas pensões dos idosos. Principalmente porque são eles os que mais votam. Estatísticas pela Europa fora mostram isso, que os mais jovens pouco votam, e são os que mais sofrem com isso.
Quando a cabeça não tem juízo, a carteira é que paga
O exemplo da automação: hoje, os trabalhadores de baixo nível cujas funções são facilmente substituídas pelas máquinas são, também, os menos educados, menos ágeis, com menos capacidades que lhes permitam reagir à inevitável automação. São os mais vulneráveis pois não têm planos secundários caso a automação os atinja. Sempre fizeram a mesma coisa e nunca adquiriram conhecimentos extra. O que é um problema. Se, através de múltiplas ações, ao longo das suas vidas, demonstrassem agilidade e curiosidade, adquiririam novos conhecimentos, abrir-se-iam novas portas. Mas, como esse comportamento nunca foi estimulado, nunca cresceu.
E este problema aplica-se tanto a trabalhadores com cargos mais baixos como aos com cargos mais altos. A mesma condição aplica-se a todo o ser humano. A diferença é que esses cargos mais altos não são afetados pela automação. Ainda. Esta questão só é resolvida se o governo de um país dedicar sérios recursos à constante evolução e treino da sua população laboral. Um contínuo estimular da aprendizagem.
Mas as repercussões e negativas consequências de má educação não se limitam à perda de emprego para a automação.
No nosso dia-a-dia, não tendo uma educação económica, mais vasta, acabamos por, sem nos apercebermos, tomar más decisões no que toca ao nosso dinheiro.
Para não falar do horrível impacto ambiental da roupa descartável, nós gastamos enormes pequenas quantidades de dinheiro em roupas que usamos apenas algumas vezes e deitamos fora, ou então, acumulamos nos nossos armários.
Quantas vezes não compramos comida que não queremos, colocamos no frigorífico e nunca mais nos lembramos dela, apenas para depois a deitarmos fora porque já está estragada? Com a poluição gerada pela agricultura, este comportamento deve ser evitado ao máximo.
Quantas vezes não compramos telemóveis caríssimos quando, na realidade, precisamos apenas de um a metade do preço, mas, para impressionarmos os amigos, compramos um mais caro. Gastamos dinheiro desnecessariamente e, ainda por cima, estimulamos práticas laborais exploratórias de trabalhadores pelo mundo fora.
Quantas vezes não compramos bilhetes de lotaria, algo que já é conhecido como o imposto aos pobres, pois são eles que mais dinheiro gastam neles. São, também, os que mais precisam desse dinheiro.

A educação não é apenas as “ciências clássicas”, também é a emocional e a social
A palavra educação, primeiro, na maior parte das pessoas, leva ao pensamento de boas maneiras, respeito. Mas essa palavra tem um significado tão vasto quanto o universo. E nós temos que reconhecer isso.
Sim, educação implica boas maneiras, mas também implica compreender a biologia do corpo humano, os princípios físicos que fazem um carro se mexer, a química da medicina, a psicologia das nossas emoções, o relacionar de ações passadas com resultados presentes, a compreensão de ideias novas, a crítica do desconhecido, a curiosidade de aprender coisas novas. Mas, infelizmente, não é essa a educação dada nas escolas. Existem alguns pontos que severamente falham.
Retomando o tema do mundo em constante mudança. Com uma enorme quantidade de informação ao nosso dispor, compreende-la, compreender as fontes e compreender os pontos de vista torna-se essencial. Simplesmente ler a notícia não chega. É necessário minimamente compreender o assunto.
Essa crítica, capacidade de compreender e questionar, de argumentar e debater tem que ser construída logo desde o início do percurso escolar. À medida que são ensinadas as ciências clássicas, a história, a língua, devemos também ensinar a crítica e o relacionar de todos esses temas.
Por cada vez que algo novo sobre o corpo humano é ensinado, deve-se ensinar como o manter com boa saúde. Por cada vez que algo é ensinado sobre a nossa alimentação, deve-se ensinar como sermos saudáveis na nossa comida. Cada vez que algo é ensinado sobre os alimentos, deve-se ensinar as consequências do desperdício alimentar e do impacto ambiental da agricultura. Cada vez que ensinamos algo histórico, devemos ensinar as repercussões. Cada vez que falamos dos descobrimentos, devemos falar sobre a escravatura.
Estas críticas, estes argumentos, estes debates devem acontecer o mais frequentemente possível e não apenas nas aulas de filosofia. Todas as diferentes disciplinas devem estimular esta discussão. Não só, devemos ir um passo à frente e criar debates entre diferentes disciplinas e temas: relacionar biologia com o ambiente, história com direitos humanos, a língua com psicologia, etc.
Sem esquecer a autocrítica, a introspeção
Estando a compreensão das ciências clássicas estabelecidas, devemos aplicar esses métodos a nós mesmos. Sim, da mesma maneira que criticamos assuntos externos, devemos também saber criticarmo-nos a nós próprios, compreendermo-nos. Esta é uma muito importante capacidade que todos nós devemos ter: saber quem somos, o que fazemos e o porquê de o fazermos. Melhoram as nossas decisões, as nossa relações e possíveis futuras crianças. E, tendo em conta que a frequência de problemas mentais está a aumentar pelo mundo fora, esta capacidade de nos compreendermos torna-se ainda mais essencial. É muito mais fácil diagnosticar (e tratar) um distúrbio mental quando a pessoa já se compreende melhor.
A outra vantagem desta introspeção é a compreensão das pessoas que nos rodeiam. Por precisarmos de melhorar a união da nossa sociedade, melhores relações são construídas graças a esta introspeção. Quanto melhor nos conhecermos, melhor podemos nos explicar a outras pessoas e expormo-nos a novas relações. Estas relações, baseadas em mais honestas trocas de informação, duram mais tempo e são mais estáveis.
O que mudar
Apenas quando o eleitorado reconhecer a suprema importância da educação e votar em partidos políticos que representem essa importância, é que as mudanças ocorrem. Nada menos que uma revolução e completa revitalização de toda a hierarquia de ensino nos trará os benefícios que iremos precisar para prosperar.
A maneira como as aulas são dadas deve mudar. As turmas têm que ser mais pequenas, mais ágeis. Os professores têm que ser educados com novas ferramentas para poderem ensinar diferentes temas a diferentes alunos de maneiras diferentes. As suas condições de ensino também têm que melhorar para poderem ter a liberdade de espírito para aprenderem estas novas capacidades.
As escolas devem ter mais psicólogos para os alunos e a interação entre eles deve ser promovida. Não apenas em relações singulares entre um aluno e um psicólogo, mas também em terapias de grupo, de aprendizagem onde os alunos são ensinados a melhor se compreenderem a si e aos outros. Estimular a criação de relações e partilha de problemas. Apenas assim poderemos ser uma sociedade mais una e não apenas um grupo de indivíduos.
O currículo vai ter que mudar, vai ter que ser atualizado, novas disciplinas vão ter que ser integradas como economia, civismo e psicologia. A própria organização do horário também tem que mudar pois aulas de 90 minutos já se provaram desadequadas há muito tempo.
A sala de aula tradicional é útil para muitas aulas, mas não para todas. Os alunos devem se mexer mais e obterem educação de mais maneiras, através de debates, projetos artísticos, visitas de estudo ou mesmo teatro onde se consideram nos pés de outras pessoas.
As possibilidades de mudança são múltiplas e os benefícios intransponivelmente positivos. Tendo em conta a importância e sensibilidade do assunto, como é óbvio, devemos ter calma na implementação. As alterações devem ser implementadas uma a uma, com tempo para ajustes.
Mas que temos que imperativamente começar com a mudança hoje, sim, temos.