Com os novos protocolos USB e Thunderbolt, as semelhanças e diferenças entre os dois estão a criar um muito complicado paradigma de interacção. Com a introdução da porta USB tipo-C, pretendia-se eliminar todas as antigas portas USB, pequenas ou grandes, e as consolidar numa só: uma pequena e reversível porta, universal a todos os equipamentos. No entanto, o que se criou foi uma ainda maior entropia de ligações graças à electrónica requerida do cabo, a sua compatibilidade com diferentes protocolos e a introdução do Thunderbolt na equação.
Começando pelos básicos: USB tipo-C é um design para o cabo e porta e não para a tecnologia. Ou seja, quando verem USB tipo-C, isso apenas quer dizer que a porta e o cabo seguem essa forma física, essas dimensões e desenho. Não significa nada quanto a velocidades ou tecnologias. Segundo a actual intenção, o objectivo é usar a porta tipo-C tanto em telemóveis como em portáteis e torres, sem variações, simplificando assim a interacção. Uma porta para todos.
Um novo detalhe é que o protocolo Tipo-C implica que os cabos tenham electrónica dentro deles. Ou seja, já não são simplesmente cabos vazios, independentes das suas entradas e saídas. São cabos cuja sua electrónica interna restringe o seu uso. Antes, com os cabos tipo-A, aqueles que nós conhecemos que só podem ser ligados com a orientação certa, podíamos usar o mesmo cabo para qualquer protocolo: 1.0, 2.0 ou 3.0. Podíamos não ter todos os benefícios (para se tirar partido das velocidades superiores do protocolo USB 3.0, o cabo tinha que ser internamente diferente, mas retro compatível na mesma), mas funcionava.
Além da porta, existem depois as especificações de velocidade, aquilo que nós conhecemos por USB 1.0, 2.0, 2.1, 3.0, 3.1, etc. Estas especificações são para o hardware que fica dentro da máquina, a electrónica que vai processar a informação e ditar a sua velocidade de transferência.
Não só, existem também, agora, portáteis que são carregados por uma porta USB. Usando os novos padrões de energia, pode-se carregar via USB equipamentos até um limite de 100W. Com estes níveis de energia são precisos novos cabos, mais espessos e reforçados para aguentar toda esta corrente. Isto adiciona ainda mais à confusão de todas as portas serem iguais mas diferentes.
Ora bem, quando nós juntamos esta electrónica controladora em cada cabo com os novos bastantes altos limites de energia que pode ser transmitida pelos mesmos, temos uma receita para explosões. Basta perguntar à OnePlus que em 2015 incluiu um cabo USB Tipo-C no seu telemóvel OnePlus 2 que podia puxar mais corrente do que fisicamente aguentaria, podendo levar a danos tanto ao cabo como aos aparelhos em cada ponta do mesmo. Este episódio foi protagonizado por um engenheiro da Google que tem como passatempo verificar a segurança e compatibilidade de cabos USB Tipo-C. Podem verificar a sua página do Google+ para verem os testes que ele vai fazendo, indicando os vários diferentes problemas nos cabos (e acessórios) testados. Em suma: existem muitos maus cabos e acessórios com USB Tipo-C muito mal desenhados que podem causar muitas dores de cabeça e danos físicos. E não são necessariamente apenas as marcas mais baratas a cometer erros básicos.
Toda esta fragmentação contribui para um muito complicado e entrópico sistema de cabos, portas e protocolos. Longos vão os dias de simplesmente ligar um cabo e seguir. Agora temos que considerar o formato da porta, a tecnologia usada e o cabo correto para transmitir isso tudo. Certos cabos podem não transmitir dados como dizem o fazer, podem não ter a compatibilidade para outros equipamentos, podem nem funcionar correctamente para o uso que foi criado, podem levar a danos sérios nos aparelhos e podem ser simplesmente uma dor de cabeça de compatibilidade e uso. Para vossa consideração, vejam as seguintes tabelas de compatibilidade de cabeças, retiradas da Wikipédia:
E atenção, estas tabelas não incluem os diferentes protocolos de velocidades. Apenas se referem à compatibilidade de portas e não das tecnologias internas (USB 1.0, 2.0 e 3.0). A primeira tabela refere-se a que porta fisicamente cabe dentro de outra. A segunda tabela refere-se à compatibilidade de portas em cada ponta do cabo. Ainda mais, nesta tabela não se encontram as limitações de potência energética (watts de potência). Se adicionarmos mais essa variável, ainda mais complicações existem.
Thunderbolt: o novo jogador
Mas estranhamente, os problemas com o USB têm uma nova entrada: o Thunderbolt. Inicialmente o Thunderbolt 1 e 2 usavam a porta Mini DisplayPort, que era pouco comum. Usavam também tecnologia óptica que é mais cara que o cobre mas que lhes conferiam velocidades superiores. Para aumentar a adopção do protocolo, a Intel modificou a porta para USB Tipo-C. Esta mudança permitiu transmitir informação a velocidades mais altas que o USB 3.1 (40 Gbits/s Vs. 10 Gbits/s) e aproveitar também a transmissão de energia até 100W via USB Power Delivery. O melhor de ambos os mundos: alta velocidade e energia, preço mais baixo e maior adopção.
Não só, o Thunderbolt 3 é um protocolo que suporta PCIe 3.0, USB 3.1, HDMI 2.0 e DisplayPort 1.2. Tudo isto quer dizer que podemos substituir USB, HDMI e DisplayPort por uma só porta.
Ao incorporar todas estas portas e tecnologias num só protocolo, temos uma alternativa muito mais atractiva e resistente a mudanças futuras. De um ponto de vista ideal, no futuro, é concebível existirem computadores com apenas portas Thunderbolt Tipo-C (mais umas portas 3.5mm para auscultadores e outras para cartões SD).
Não, Thunderbolt 3 não é perfeito pois é um conjunto de diferentes protocolos, todos suportados numa só porta, mas é melhor que o USB. Consegue-se ter um acesso mais directo ao hardware interno do computador (que leva às muito mais rápidas velocidades) enquanto que o USB coloca algumas barreiras e intermediários entre o periférico e o PC.